Título: Banco Central exagerou nos juros, diz Scheinkman
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2006, Economia, p. B3

O economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton, acredita que há exagero na política monetária. 'Nos últimos três anos, o Banco Central praticou uma política excessivamente apertada', disse, durante o evento Futurecom, em Florianópolis. Ele preferiu não arriscar, no entanto, qual seria o nível correto para a taxa básica de juros hoje.

'O Brasil passou por mudanças estruturais importantes', disse o economista. Ele defendeu a adoção de uma taxa de inflação que exclua os preços administrados, como tarifas de energia e telecomunicações, e os preços determinados pelo mercado externo, como o petróleo, para a definição do comportamento dos juros. 'Nos últimos anos, os preços livres tiveram queda', destacou.

Para Scheinkman, existe espaço para experimentar mais. Ele lembrou que seu ex-colega de universidade Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, banco central americano, chegou a admitir publicamente que não sabia o que deveria fazer com a taxa básica de seu país, o que causou alguma confusão. 'O Henrique Meirelles (presidente do BC) sabe ainda menos que o Bernanke, pela diferença na qualidade dos dados e pelo longo histórico de estabilidade dos Estados Unidos.'

Entre 2000 e 2005, o crescimento médio do Brasil ficou próximo de 1% ao ano, abaixo da média mundial. A China avançou 9%. O economista acredita, no entanto, que a política de juros altos e o câmbio valorizado não são os culpados pelo desempenho ruim do Brasil. Para ele, restringem a expansão econômica a falta de investimentos em infra-estrutura, educação e pesquisa e desenvolvimento e os tributos pesados e complexos, que impedem a redução da informalidade e retiram competitividade do País. Ele considera essencial que o Brasil mantenha o sistema de metas de inflação e o câmbio flutuante.

'Felizmente os dois candidatos concordam com isso', destacou, referindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Geraldo Alckmin. Ele não quis fazer uma avaliação dos cenários econômicos no caso de vitória de cada um deles, mas destacou duas medidas urgentes para o próximo governo: a reforma tributária e uma reavaliação dos programas de governo.

'Feito isso, haveria espaço para investir em infra-estrutura', disse Scheinkman. 'Existe muita coisa para ser feita, que não foi.' No cenário externo, a maior ameaça é o déficit em conta corrente (diferença entre investimento e poupança) dos Estados Unidos, que ficou em 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) americano no ano passado.

'Entre 1973 e 1999, houve 28 episódios de correção em grandes economias, incluindo uma nos Estados Unidos', afirmou o economista. 'Normalmente eles acontecem quando o déficit chega a 4%, 5% do PIB.'

O remédio mais comum é a desvalorização da moeda, com uma queda substancial do crescimento. Os EUA são o principal motor do crescimento global, responsável por 25% da expansão econômica do mundo em 2005.