Título: Mantega festeja alta da produção da indústria
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2006, Economia, p. B3

Dentro da estratégia de dar visibilidade às notícias favoráveis ao governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou ontem o crescimento de 0,7% da produção industrial em agosto e a correção do resultado de julho, de 0,6% para 0,7%. 'A produção industrial está aquecida, deve continuar nesse ritmo até o final do terceiro trimestre e continuará no quarto trimestre', disse Mantega.

Mais festejado ainda foi aumento dos investimentos. O segmento de bens de capital apresentou crescimento de 2,8% em agosto na comparação com julho e de 7,4% na comparação com agosto do ano passado. 'Essa é uma notícia favorável para o País, porque mostra que a capacidade produtiva está se expandindo', comentou o ministro. Dessa forma, explicou, há espaço para a demanda crescer sem provocar pressões inflacionárias.

Mantega acredita que os investimentos crescerão de 7,5% a 8% este ano. 'O ideal seria que o investimento estivesse crescendo o dobro da taxa do PIB', disse. 'Ideal mesmo seria termos uma taxa como a da China, que é fantástica, de 40%. Mas como nós não somos a China, como vocês não são chineses, somos brasileiros, já tivemos nossos anos de milagre crescendo a mais de 10%, sejamos mais modestos.'

O desempenho da indústria em agosto animou o governo principalmente porque abre a possibilidade de reverter o mau desempenho do segundo trimestre, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu só 0,5%. Mantido o atual ritmo, calculou Mantega, a indústria terá um crescimento de 2% no terceiro trimestre. Com isso, o PIB do período deverá aumentar entre 1% e 1,5%. 'Teremos um trimestre positivo, certamente melhor do que o anterior, que foi fraco', comentou o ministro. 'Se estava mal, agora está bem.' Mantega atribuiu a melhora no desempenho da indústria aos sucessivos cortes na taxa de juros. Segundo ele, há um intervalo entre a redução do juro e o surgimento dos resultados na economia real. Esse atraso seria de cerca de seis meses.

'A produção está refletindo a redução da taxa de juros de seis meses atrás.' Como o juro continua caindo, disse ele, 'a tendência vai continuar'. Se o desempenho de agosto for repetido no quarto trimestre, será possível fechar o ano com um crescimento do PIB na casa dos 4%, disse o ministro.

Na semana passada, o Banco Central divulgou o Relatório de Inflação, no qual cortou a projeção do crescimento da economia em 2006 de 4% para 3,5%. Mantega, porém, insiste nos 4% e acha cedo para rever suas projeções. 'Quando completar o terceiro trimestre eu farei ou uma afirmação ou uma revisão daquela projeção de 4%', informou. 'Por enquanto, trabalhamos com a projeção de 4%.'

'Crescimento é decepcionante', diz Mendonça de Barros

O economista José Roberto Mendonça de Barros, secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex) durante parte do governo Fernando Henrique, disse ontem, durante um debate com o ministro Guido Mantega na rádio CBN, que 'o crescimento (do Brasil) é decepcionante'. Segundo ele, o País cresce pouco porque investe pouco. Ele lembrou que os fatores que levam os empresários a investir são cada vez piores. Citou como exemplo o modelo elétrico. 'Há quatro anos não se inicia uma nova hidrelétrica no Brasil.'