Título: Lula quer mais esforço para descolá-lo do caso
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2006, Nacional, p. A13

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está angustiado com a demora de sua coordenação de campanha em conseguir êxito na estratégia de descolar de sua figura o escândalo do dossiê Vedoin. Lula tem se empenhado diariamente em tentar convencer a opinião pública de que o dossiê foi produzido a quilômetros do Palácio do Planalto, mais especificamente em São Paulo, sem que dele fizesse a menor idéia.

Para isso, repete em suas entrevistas e discursos, que uma banda podre do PT - que já rotulou de 'aloprada' - é a responsável exclusiva pelo crime eleitoral. 'Tem que botar pra f...' , desabafou numa reunião, ontem pela manhã, no Palácio da Alvorada, à qual estavam presentes coordenadores de campanha.

Lula cobra de sua assessoria uma forma eficiente de consolidar a versão de que ele foi o maior prejudicado com o dossiê e, por isso, não poderia ter partido dele ou de qualquer membro de sua campanha a iniciativa.

O objetivo dessa estratégia é fazer com que Lula chegue ao primeiro debate com seu adversário do PSDB, Geraldo Alckmin, razoavelmente blindado contra o dossiê. O presidente foi explícito, segundo a mesma fonte, ao cobrar punições e a apresentação de culpados, para que ele possa se proteger das acusações da oposição. 'Quem fez besteira tem de ser punido', disse ele, mantendo a versão da 'operação Tabajara' para o dossiê.

A demora de que se queixa o presidente, porém, se deve à dificuldade de investir de forma contundente contra personagens do partido cujas biografias ficam definitivamente manchadas, caso do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), já deposto da coordenação da campanha presidencial e ameaçado de perder o comando do partido. Da mesma forma, é difícil investir contra Hamilton Lacerda, comprovadamente envolvido na operação do dossiê, sem atingir frontalmente o líder de seu governo no Senado, Aloísio Mercadante (SP).

Lula cobrou também a exploração do aspecto do escândalo que pode envolver o prefeito de Piracicaba, Barjas Negri, que foi ministro da Saúde no governo FHC. Seria uma forma de inserir o PSDB no mesmo barco dos sanguessugas - o que, aliás, era o objetivo da desastrada operação empreendida por petistas para comprar o dossiê Vedoin. 'Tem de abrir esse dossiê', disse o presidente, legitimando o documento que condenou publicamente.

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