Título: Lula dá mais R$ 1,5 bi a 9 ministérios
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2006, Economia, p. B3

Na primeira semana de campanha para o segundo turno das eleições, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem uma medida provisória liberando R$ 1,5 bilhão para nove ministérios. Parte das verbas foi distribuída de forma dirigida, para atingir áreas onde o candidato Lula foi mal nas urnas ou para ajudar aliados.

São Paulo, por exemplo, receberá R$ 19,1 milhões para equipar a Polícia Federal e montar uma central de inteligência contra o crime organizado. A segurança é um conhecido ponto fraco da administração do PSDB no Estado. Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do País e onde a vantagem de Lula sobre o candidato Geraldo Alckmin ficou abaixo da esperada, foi aquinhoado com cerca de R$ 58 milhões para obras rodoviárias.

Foram liberados R$ 6,9 milhões para rodovias no Paraná, onde Lula corre o risco de ficar sem palanque, pois o candidato do PDT, Osmar Dias, já declarou apoio a Alckmin e o governador Roberto Requião, candidato a reeleição, ainda não se definiu. Para Paulo Bernardo, 'tem grandes possibilidades' de o paranaense apoiar Lula, pois Requião não apoiou ninguém no primeiro turno.

No Pará, onde a senadora petista Ana Júlia disputa o governo com o tucano Almir Gabriel, houve liberação de R$ 68 milhões para a construção de eclusas no rio Tocantins. No Rio Grande do Sul, onde Olívio Dutra (PT) concorre contra Yeda Crusius (PSDB), houve liberação de R$ 2,6 milhões para obras no porto de Rio Grande.

Dos recursos liberados, R$ 1,3 bilhão correspondem ao superávit financeiro da União, ou seja, é um dinheiro que foi arrecadado no fim de 2005 e não havia sido gasto. O restante eram recursos que já estavam no Orçamento, mas foram remanejados de uma obra para outra.

A liberação do dinheiro vem 11 dias depois de o governo anunciar corte de R$ 1,6 bilhão em suas despesas. Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o corte foi feito com base numa projeção de receitas e despesas para o resto do ano. 'Poderiam perguntar: por que cortar, se tínhamos R$ 1,3 bilhão que nunca foram alocados? Porque já tínhamos estudos para atender a outras demandas.'

Ele também negou que a liberação tenha sido decidida com o intuito de ajudar a campanha eleitoral do presidente Lula. 'As pessoas de boa fé não farão essa leitura', disse. Bernardo insistiu que a liberação foi feita com base em critérios técnicos. 'Nós não paramos o governo por conta das eleições', afirmou, acrescentando que os estudos para as liberações anunciadas ontem já vinham sendo feitos há várias semanas.

Para demonstrar que as liberações não tiveram fim eleitoreiro, Bernardo frisou que mais de um terço dos recursos, R$ 540 milhões, sairão dos cofres públicos para atender decisão do Tribunal de Contas da União (TCU). Em maio, o tribunal determinou que a União deveria pôr em dia pagamentos devidos à Caixa Econômica Federal por serviços prestados na gestão de convênios no âmbito de ministérios. Outro quinhão elevado, de R$ 300 milhões, vai para a Receita Federal reforçar seus programas de arrecadação e fiscalização.