Título: Empresas brasileiras crescem no mercado global
Autor: CLAYTON NETZ
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2006, Especial, p. H1

O Brasil é o quarto entre os países em desenvolvimento que mais investem no mundo, superado apenas pela China, Cingapura e Taiwan. Segundo o Banco Central , o estoque de Investimento Direto no Exterior (IDE) do País alcançava, em setembro de 2005, a cifra de US$ 71,5 bilhões. Por IDE entenda-se o dinheiro aplicado pelas empresas brasileiras em outros países em operações produtivas - fábricas, centros de logística e de distribuição, franquias, agências bancárias, plantações e canteiros de obras, entre outras atividades. Estima-se que esse valor aumente para algo em torno de US$ 80 bilhões no próximo relatório do BC sobre o tema, marcado para o final deste mês.

Embora ainda esteja longe de refletir o tamanho da economia do País - 13% do PIB, ante 24% da média mundial - o volume do IDE brasileiro é expressivo e deve ser comemorado sob muitos aspectos. Em primeiro lugar, por sinalizar a definitiva descoberta do mercado internacional pelas empresas brasileiras, após um longo confinamento, que durou até o começo dos anos 1990, determinado por uma economia fechada e protegida, hostil à competição.

Ao lado da tradicional aversão ao risco de parte do empresariado nacional (com raríssimas exceções), vivia-se uma espécie de constrangimento ideológico que inibia quem pretendesse tentar a sorte além-fronteiras. Acreditava-se, simplisticamente, que investir lá fora significava desviar recursos escassos e exportar empregos de que o Brasil tanto precisava.

Felizmente, como provam os números do IDE, essa situação mudou. Como retrata esta edição de Brasil com Z, cresce aceleradamente o número de empresas brasileiras que descobriram que seu mercado é o mundo, que não devem limitar-se a apenas exportar , e que internacionalizar sua cadeia produtiva pode se constituir num elemento-chave de sucesso. Inclusive, para compensar as limitações do mercado interno e reduzir o chamado risco Brasil.

A despeito de serem, em sua maioria, o que os especialistas chamam de ¿late movers¿, algumas das multinacionais brasileiras começam a se destacar. Doze delas, por exemplo, integram uma lista de ¿100 desafiantes globais¿, elaborada pela consultoria americana Boston Consulting Group( BCG), constituída por empresas que já começam a ameaçar a hegemonia das multinacionais estabelecidas.

Outro dado animador é que não são apenas as grandes corporações que resolveram fincar bases no exterior. A cada ano, aumenta o rol das pequenas e médias empresas envolvidas. Encarado, diga-se, com as próprias forças. A realidade é que, à parte os esforços na área de promoção comercial, como os da Agência de Promoção das Exportações (Apex-Brasil), e a recente criação de uma linha de financiamento pelo BNDES, pouco utilizada, ainda é tímido o apoio concreto à internacionalização dado pelo governo federal .