Título: Por margem estreita, Ibope indica 2º turno entre Lula e Alckmin
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2006, Especia, p. H3

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já não tem a vitória garantida no primeiro turno, segundo uma surpreendente pesquisa Ibope divulgada ontem pela TV Globo: na hora decisiva, o petista caiu 3 pontos porcentuais e desceu para 45%, enquanto seu adversário Geraldo Alckmin (PSDB) subiu 2 pontos e chegou a 34%. Nos votos válidos, Lula agora tem 49% (para vencer no primeiro turno precisaria ter 50% mais 1 voto) e Alckmin, 37%.

Há três dias, Lula tinha 53% e Alckmin, 35%. Nesse curto período - em que houve desdobramentos do escândalo do dossiê Vedoin e, afinal, foram mostradas as fotos do dinheiro que serviria para pagar o dossiê -, Lula viu esvanecer-se uma vantagem de 5 pontos sobre a soma de seus adversários. O atual presidente vai agora enfrentar as urnas sob iminente risco de não vencer no primeiro turno, depois de ter alardeado, em seus últimos comícios, que liquidaria a fatura neste domingo.

Os últimos números apresentados pelas pesquisas de opinião mostram um Brasil literalmente dividido ao meio - uma metade está com o presidente e outra contra ele. Para tornar o cenário final mais eletrizante, Lula, que era favorito incontestável desde março deste ano - e em maior intensidade nas últimas semanas -, revela na reta final uma inquietante tendência de queda, ao mesmo tempo em que Alckmin demonstra uma consistente tendência de ascensão, que vem se confirmando, a conta-gotas, desde meados de agosto.

Segundo o Ibope, os outros candidatos não avançaram em seus números, o que significa que Alckmin não está tomando votos deles, mas do próprio Lula. A senadora Heloísa Helena (PSOL) continuou com os mesmos 8% apresentados na pesquisa anunciada três dias atrás e Cristovam Buarque (PDT) seguiu com os mesmos 2%. Além deles, a soma dos demais candidatos chegou a 2%. Na contagem dos votos válidos, Alckmin tem 37% (12 pontos abaixo de Lula), Heloísa tem 9%, Cristovam tem 3%, Ana Maria Rangel (PRP) tem 1% e Luciano Bivar tem 1%. A soma de todos os adversários de Lula perfaz 51%.

O DOSSIÊ BUMERANGUE

A queda de Lula e a ascensão de Alckmin foram aceleradas pelos desdobramentos do escândalo do dossiê Vedoin e, mais objetivamente, pela divulgação das fotos do dinheiro que seria usado na compra do dossiê contra os tucanos Geraldo Alckmin e José Serra. A manobra, idealizado por assessores petistas para prejudicar os tucanos, acabou voltando com força contra a candidatura Lula, no exato momento de definição do voto.

A eleição vai encontrar Lula em seu pior e Alckmin em seu melhor momento dos últimos dois meses. Em 27 de agosto, Lula tinha 49% e uma sólida vantagem de 17 pontos sobre a soma dos seus rivais, enquanto Alckmin patinava em exíguos e insuficientes 22%.

Mas foi a partir deste ponto que Alckmin começou a construir, a conta-gotas, a sua lenta e persistente ascensão nas pesquisas. Antes, ele costumava dizer que a campanha só começaria de fato depois que fosse iniciada a propaganda eleitoral gratuita na televisão; e que os eleitores só começariam a decidir o voto ¿depois da parada¿ (de 7 de Setembro). Embora à época tenha padecido com a ironia de muita gente, seus prognósticos agora caminham para se confirmar.

O candidato petista parece ter sido impotente para conter uma continuada hemorragia que, no último mês, lhe roubou pontos preciosos em toda a Região Sul (com destaque para o Rio Grande do Sul, que já foi governado pelo PT), em São Paulo e na Região Centro-Oeste. Evoluindo em sentido contrário, Alckmin concentrou a força de sua campanha em lugares onde estava mais forte, justamente para consolidar o voto conquistado - o Sul e São Paulo. Além disso, sentou praça em Minas Gerais, sempre apoiado pelo prestígio do governador Aécio Neves (PSDB), que deverá ser reeleito hoje com ampla vantagem sobre os seus oponentes.

A pesquisa Ibope foi a campo entre os dias 29 e 30 de setembro e ouviu 3.010 eleitores em 200 municípios, com uma margem de erro de 2 pontos porcentuais.