Título: O maior ídolo do tucano é o próprio pai
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2006, Especial, p. H6

O maior ídolo de Geraldo Alckmin não é Gandhi, Kennedy ou João XXIII, mas o seu próprio pai, Geraldo José Rodrigues Alckmin, que o criou sozinho, depois que a mãe, Myriam, morreu quando ele tinha apenas 10 anos. Foi o pai quem lhe transmitiu disciplina, comedimento, vontade de trabalhar e, principalmente, religiosidade. Quando foi prefeito de Pinda, o pai foi seu chefe de gabinete, e era também orientador, confessor e redator dos discursos.

Nem como governador mudou seus hábitos frugais. Convidá-lo para jantar num restaurante chique redunda sempre numa educada negativa. Mas, governador, sempre convidava amigos para irem ao palácio, aos domingos, comer... uma pizza. Não se rende a finos pratos da cozinha francesa: gosta mesmo é de frango ao molho pardo, com doce-de-leite ou arroz doce com canela na sobremesa; após o café, um tablete de chocolate, que tem sempre no porta-luvas do carro ou no gabinete.

Não bebe, engana: segundo os amigos, passa um evento inteiro com o mesma taça de vinho na mão, fingindo que toma. Não fuma. Durante a campanha presidencial, engordou um pouco - está com 72 quilos, para 1,76m de altura. No governo paulista, acresceu 2,5 graus em sua miopia. Não liga para grifes, mas ganhou fama de colecionar gravatas amarelas, tal a freqüência com que as usa. 'Alguém da família gosta', confidencia um amigo.

Herdou a religiosidade do pai, que era ministro da Ordem Terceira de São Francisco, mas nunca foi membro de qualquer congregação católica, embora alguns apressados o tenham citado indevidamente como membro da Opus Dei. Vai à missa todos os domingos de manhã e comunga com freqüência.

A 'FAZENDINHA'

Quando menino, sua família morava na zona rural de Pinda e ele ganhou um apelido típico do campo: Paiol. Na fazenda experimental da Secretaria da Agricultura onde a família morava, até hoje existe a figueira com raízes tortuosas e expostas, entre as quais ele brincava de 'fazendinha' - caroços secos de manga e abacate eram os 'bois'. Tem afeto especial por Nhá, Teresa Faria dos Santos, que foi sua babá a partir dos 6 meses e vive próxima à família Alckmin até hoje.

Fala inglês não muito bem. Quando era governador, fez aulas particulares para melhorar a fluência, mas acabou desistindo. Gosta de esportes e é santista doente, resíduo do tempo em que o pai chefiou a estação de piscicultura de Santos. Limitado no futebol, chegou a faixa amarela de judô, treinando com Paulo de Oliveira, o Paulo Aço, pai de João Carlos de Oliveira, o campeoníssimo João do Pulo.

Gosta de literatura que mescla ficção com realidade - adorou Quando Nietzsche chorou, de Irvin Yalom. Leu com atenção O Duelo: Churchill x Hitler, 80 dias cruciais para a Segunda Guerra Mundial, de John Lukacs. Quando jovem, leu toda a obra adulta de Monteiro Lobato, mas guardou especial lembrança de Cidades mortas, que conta a decadência cafeeira do Vale do Paraíba, onde Pinda está inserida. Em cinema, tem duas preferências: filmes brasileiros (Carandiru é o que mais cita) e comédias.