Título: Para analistas, programas de PT e PSDB pouco diferem
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2006, Especial, p. H10

Os ânimos entre petistas e tucanos chegaram a um nível de acirramento jamais visto durante a campanha eleitoral, mas, para muitos analistas, as diferenças programáticas entre os dois partidos que lideram a política nacional não são tão dramáticas assim.

Sérgio Werlang, diretor do Banco Itaú, diz que ¿o Brasil que vai para as urnas é um país muito mais maduro institucionalmente, no qual nenhum dos dois candidatos com chances discute a importância do superávit primário, de se cumprir contratos e de pagar a dívida pública¿.

Werlang acha que há diferenças entre o PT e o PSDB, mas dentro de parâmetros que não ameaçam os fundamentos principais da economia. Para ele, o PT é mais assistencialista, priorizando políticas mais imediatistas, enquanto um governo tucano talvez obtivesse um crescimento um pouco mais rápido reforçando o direito de propriedade, as agências reguladoras, as concessões e o controle dos gastos públicos.

Mesmo otimistas como Werlang, porém, prevêem que o crescimento brasileiro no próximo governo ainda deve ficar longe da exuberância de outros países emergentes, como a Índia e a China. Ele projeta uma média de 3,5%, caso Lula seja reeleito, mais do que os 2,5% previstos por Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas. Com Alckmin, Werlang acha que o País poderia chegar a 4% ou 4,5%.

Há quase um consenso, entre economistas e cientistas políticos, de que o País chega ao fim do mandato de Lula esgotado política e institucionalmente, e que será muito difícil, tanto para o atual presidente quanto para Alckmin, realizar as reformas que poderiam acelerar o crescimento.

Os seguidos escândalos envolvendo o governo Lula contribuíram para esgarçar as relações entre os partidos e acirrar os ânimos. ¿Estou muito impressionado com a divisão, o cinismo e o vale-tudo do momento atual¿, diz o cientista político Bolívar Lamounier, acrescentando: ¿Se continuar nessa batida, vai ficar complicado.¿

Algumas das políticas de maior sucesso do governo Lula foram adotadas apesar da feroz oposição de boa parte do próprio PT, e foram herdadas do governo de Fernando Henrique ou tiveram origem em círculos ¿neoliberais¿ abominados pela esquerda. Elas incluem a ortodoxia macroeconômica, a agenda microeconômica de reformas para expandir o crédito e estimular os investimentos e a política social focalizada do programa Bolsa-Família. Com a decomposição política do fim do governo e a saída de parte dos formuladores e executores daquelas políticas, há dúvidas sobre que rumo que Lula vai tomar se for reeleito.