Título: Rússia lidera venda de armas a países em desenvolvimento
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Internacional, p. A9

A Rússia assumiu em 2005 a liderança nas vendas de armas ao mundo em desenvolvimento, ultrapassando os EUA, e seus novos contratos incluíram a venda de US$ 700 milhões em mísseis terra-ar para o Irã e oito aviões-tanque de reabastecimento durante vôo para a China, segundo um novo estudo do Congresso americano.

Esses negócios fazem parte do mercado altamente competitivo de armas no mundo em desenvolvimento, que cresceu de US$ 26,4 bilhões em 2004 para para US$ 30,2 bilhões em 2005. É um mercado que os Estados Unidos vinham dominando regularmente.

Os contratos da Rússia com o Irã não são a maior parte das suas vendas totais - a Índia e a China são seus principais compradores. Mas as vendas para melhorar o sistema de defesa aérea do Irã são particularmente inquietantes para os Estados Unidos porque complicarão a tarefa do Pentágono caso o presidente George W. Bush ordene ataques aéreos às instalações iranianas de armas nucleares.

O governo Bush prometeu uma solução diplomática para a crise com o Irã. Mas, enquanto diplomatas da ONU discutem mais uma vez possíveis sanções contra Teerã por causa de suas ambições nucleares, autoridades russas têm se mostrado relutantes em votar a favor das sanções econômicas mais rigorosas, em parte por causa das amplas relações comerciais da Rússia com o Irã.

As vendas de armas da Rússia para a China também preocupam os planejadores do Pentágono. Embora a China tenha se juntado aos Estados Unidos numa parceria para pressionar pela retomada das conversações multilaterais para o fim do programa de armas nucleares da Coréia do Norte (após o teste nuclear norte-coreano do dia 9), Taiwan continua sendo um ponto potencialmente turbulento entre a China e os EUA.

Assim, a capacidade da China de reabastecer seus bombardeiros e aviões de ataque em pleno vôo para possibilitar que voem para mais longe do solo chinês poderá requerer que a Marinha dos Estados Unidos estenda suas operações marítimas para ainda mais longe se as Forças Armadas americanas forem chamadas a lidar com uma crise no Estreito de Taiwan.

Isso teria um impacto sobre o alcance e o número de missões de aeronaves da Marinha americana lançadas de porta-aviões.

Detalhes das transações com armas no comércio global do setor no ano passado fazem parte de um estudo anual feito pelo Serviço de Pesquisa do Congresso que é considerado a mais completa compilação dos números disponíveis de forma não confidencial. O relatório foi entregue a membros do Congresso na sexta-feira.

Entre as transferências de armas descritas no estudo estão dados de que uma única nação, cujo nome não foi revelado - mas foi identificada pelo Pentágono e por outras autoridades americanas como sendo a Coréia do Norte -, expediu cerca de 40 mísseis balísticos para outros países no período de quatro anos encerrado em 2005, o único país a fazer isso.

Essas transferências de armas são proibidas por acordos internacionais para controlar o comércio de mísseis balísticos.

Entre as sanções aprovadas pela ONU contra a Coréia do Norte no início de outubro por causa de seu teste nuclear consta uma nova e específica proibição de comércio ou transporte de mísseis balísticos e peças de mísseis da Coréia do Norte e para ela.

O relatório, intitulado Conventional Arms Transfers to Developing Nations (Transferências de Armas Convencionais para Países em Desenvolvimento), descobriu que os contratos de venda de armas da Rússia para o mundo em desenvolvimento totalizaram US$ 7 bilhões em 2005, um aumento em relação aos US$ 5,4 bilhões registrados em 2004. Esse número superou os contratos anuais de venda dos EUA para os países em desenvolvimento pela primeira vez desde o colapso da União Soviética, em 1991.

A França ocupou o segundo lugar em contratos de transferência de armas para os países em desenvolvimento, com US$ 6,3 bilhões, e os EUA ficaram em terceiro, com US$ 6,2 bilhões.

O maior comprador do mundo em desenvolvimento em 2005 foi a Índia, com US$ 5,4 bilhões em compras de armas, seguida da Arábia Saudita (US$ 3,4 bilhões) e da China (US$ 2,8 bilhões).

O valor de todas as transações de venda de armas no mundo inteiro, considerando os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, foi de US$ 44,2 bilhões em 2005.

As vendas da Rússia em 2005 incluíram 29 sistemas de mísseis SA-15 Gauntlet (terra-ar) para o Irã. A Rússia também assinou contratos para aprimorar bombardeiros Su-24 e caças MiG-29 do Irã, assim como seus tanques de batalha T-72.

'Durante um período, em meados da década de 1990, o governo russo comprometeu-se a não fazer novas vendas de armas avançadas para o governo do Irã', escreveu Richard F. Grimmett, autor do estudo do Serviço de Pesquisa do Congresso, uma divisão da Biblioteca do Congresso. 'Esse acordo foi posteriormente rescindido pela Rússia. E, no momento em que os Estados Unidos concentram mais atenção nas tentativas do Irã de melhorar suas capacidades nucleares e convencionais, grandes transferências de armas para o Irã continuam sendo objeto de preocupação.'

Ainda segundo o estudo, a Rússia também se comprometeu em 2005 a vender para a China oito aviões-tanque de reabastecimento em vôo IL-78M.

Em 2005, os Estados Unidos lideraram o total de contratos de transferência de armas , juntando as transações com países desenvolvidos e em desenvolvimento. O total de vendas americanas foi de US$ 12,8 bilhões, inferior aos US$ 13,2 bilhões de 2004.

Em 2005, o relatório não registra nenhum grande contrato de exportação de armas por parte dos EUA, cujo total de US$ 12,8 bilhões foi atingido principalmente graças à venda de peças de reposição para armas fornecidas em anos anteriores.

A França ficou com o segundo lugar no total de vendas, com US$ 7,9 bilhões, uma alta em em relação aos US$ 2,2 bilhões de 2004. A Rússia ocupou o terceiro lugar na soma das vendas para países desenvolvidos e para países em desenvolvimento, com um total de US$ 7,4 bilhões - um crescimento em relação ao valor de US$ 5,6 bilhões obtido em 2004.

O estudo utilizou números em dólares americanos de 2005, e as quantias referentes aos anos anteriores foram ajustadas para incorporar a inflação.