Título: Mundo parou no combate à fome, mostra FAO
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Vida&, p. A11

A redução da fome no mundo está estagnada, advertiu ontem a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) ao apresentar o relatório 'O estado da insegurança alimentar 2006'. O documento, que se refere ao biênio 2001-2003, revela que 854 milhões de pessoas passam fome de forma crônica no mundo.

O número se manteve nos mesmos níveis de 1996, quando foi realizada a Cúpula Mundial da Alimentação, em Roma, onde os líderes de diversos países se comprometeram a reduzir pela metade o número de pessoas com fome crônica até 2015 - meta que, segundo a FAO, 'exigiria uma forte aceleração da taxa de redução da proporção de pessoas desnutridas'.

Dos 854 milhões de famintos que há no mundo, 820 milhões vivem em países em desenvolvimento, 25 milhões são dos países da antiga União Soviética e 9 milhões vivem nas nações mais ricas. 'De 1990 a 1992, a população subnutrida nos países em desenvolvimento diminuiu apenas 3 milhões, passando de 823 para 820', mostra o documento. Para alcançar o objetivo fixado na Cúpula de Roma, o número de pessoas subnutridas deveria diminuir em 31 milhões ao ano.

De acordo com a FAO, a estagnação da redução da fome, no entanto, oculta grandes diferenças entre regiões. Por exemplo, na Ásia, América Latina e Caribe houve 'uma redução global, tanto no número como na incidência de pessoas' mal alimentadas.

Só a América Latina - onde viviam 52 milhões de pessoas em situação de fome crônica em 2001-2003, e 59 milhões entre 1990-1992 - abriga aproximadamente 6% dos subnutridos do mundo em desenvolvimento e 11% dos que existem no mundo todo, de acordo com dados do relatório.

Nos dez anos desde a Cúpula da Alimentação, o número de subnutridos na África aumentou. Na África Subsaariana, o problema piorou: de 169 milhões para 206 milhões de pessoas em situação de fome.

Quanto ao Oriente Médio e o norte da África, a insegurança alimentar é persistente tanto em números absolutos como em termos de incidência, apesar de ser relativamente baixa. Entre 1990-1992 e 2001-2003, a incidência da fome subiu de 8% para 9%, enquanto o número de pessoas que não se alimentam adequadamente passou de 25 milhões para 38 milhões, embora a FAO reconheça que os dados sobre o Afeganistão e o Iraque não sejam confiáveis.

A FAO diz que 'apesar dos decepcionantes resultados obtidos até agora, as perspectivas quanto à redução da fome parecem mais promissoras nos dias atuais'. A organização baseia essa afirmação na 'melhoria dos resultados econômicos dos países em desenvolvimento, apoiada por um aumento na atenção internacional ao problema, que é uma soma da extrema pobreza e da fome'.