Título: Militância hostiliza jornalistas em Brasília
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Especial, p. H3

Militantes do PT que foram saudar a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cidade hostilizaram a imprensa por suposta cobertura tendenciosa durante o processo eleitoral. Enquanto o presidente comentava a vitória nas urnas diante das câmeras, em frente ao Palácio da Alvorada, os petistas gritavam em coro: 'Eu, eu, eu, a Rede Globo se f...' Na briga para se aproximar do presidente, os militantes chegaram a gritar para os seguranças: 'Tira a imprensa, tira a imprensa.' Parte dos militantes era gente com cargo comissionado no governo, alguns usavam até crachá funcional.

Os petistas e servidores mais exaltados diziam ter saudade do regime militar (1964-1985). 'A ditadura matava com baionetas, a imprensa hoje mata com a língua', afirmou um militante. 'Prefiro a ditadura, vamos fechar todos os jornais', disse outro. Um repórter foi chamado de 'almofadinha' da 'imprensa marrom' e até acabou agredido com uma bandeirada na cabeça.

Uma petista disse que não iria tolerar perguntas 'provocativas' ao ídolo Lula, como questões ligadas à tentativa de compra do dossiê Vedoin por petistas para implicar políticos tucanos na máfia dos sanguessugas: 'Se perguntarem sobre dossiê, vão levar um dossiê na cara.' Outro militante do partido avisou: 'Nada de pergunta sobre mensalão.' Receberam vaias de repórteres que resolveram responder às agressões.

Na conversa com os jornalistas, o presidente não voltou a comentar os 'ataques' da imprensa, como se refere à divulgação dos escândalos de seu governo. Lula deixou o Alvorada no início da tarde para despachar no Palácio do Planalto. Ao chegar à garagem do palácio, 200 petistas com cargos no governo cantaram jingles de campanha e empunharam bandeiras. Depois, o presidente e os militantes rezaram o Pai-Nosso.

INTOLERÂNCIA

À tarde, durante entrevista coletiva do presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, os jornalistas voltaram a ser hostilizados. Garcia condenou o comportamento dos militantes. 'Se houve qualquer manifestação de intolerância, tem nossa condenação. Todos sabem que muitas vezes divergimos sobre o comportamento da imprensa, mas nunca a ponto de negar o papel que ela tem.' Mesmo assim, sugeriu que os meios de comunicação façam uma 'auto-reflexão' sobre sua atuação na campanha. L.N. e T.M.