Título: Dilma avisa que crescimento terá ênfase no segundo mandato
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Especial, p. H4

No primeiro dia após a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dois ministros fortes avisaram que o segundo mandato do petista terá cunho desenvolvimentista. 'Nós hoje podemos almejar uma política de crescimento econômico e ter isso como uma das metas centrais do governo', sustentou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou: 'Vai ser mais desenvolvimentista, mas será continuação da política econômica do primeiro governo, só que dentro de uma nova fase.'

De acordo com Mantega, a política econômica no primeiro mandato, chamada por ele de 'primeira fase', teve por objetivo trazer equilíbrio econômico. 'Essa fase foi importante porque trouxe equilíbrio, eliminando problemas e desequilíbrios que haviam sido herdados da gestão anterior', comentou. 'Entramos numa nova fase, na qual o crescimento será mais intenso, mais vigoroso, com mais geração de emprego, que será a tônica do próximo governo.'

As posições dos dois ministros reafirmam a existência de dois grupos, que cabe ao presidente Lula administrar. De um lado, com Mantega e Dilma, estão o vice-presidente José Alencar e os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Do outro, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

SUPERÁVIT MANTIDO

Em entrevista à rádio CBN, Dilma disse que as metas de inflação serão mantidas no segundo mandato do governo Lula, mas o crescimento será um dos pilares da política econômica. Ela destacou que a realidade agora é outra, pois a estabilidade conquistada no primeiro mandato torna possível o crescimento.

Dilma anunciou, também, uma gestão rígida do gasto público. 'Os 4,25% de superávit primário estão mantidos', enfatizou. Ela acredita que as reformas serão aprofundadas, para se chegar a uma política fiscal mais eficaz. 'Vamos ter de buscar maior eficácia no gasto e enxugar bastante a máquina, para possibilitar investir e manter os gastos sociais. Vamos ter um esforço muito grande nesta área.' E destacou: 'Nós vamos precisar de uma política de investimento que viabilize o crescimento de 5%.'

A chefe da Casa Civil também admitiu a necessidade de desonerar tributos a partir da racionalização dos gastos públicos, mas disse discordar da hipótese de um corte de R$ 60 bilhões, defendida pelo PSDB.

Também repercutiram no meio financeiro, mas acabaram contestados ontem pelo governo, a informação dada anteontem pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, de que 'acabou a era Palocci' e especulações sobre a possível saída de Mantega da Fazenda.

No início da noite, o porta-voz da Presidência, André Singer, divulgou uma nota desmentindo 'rumores sobre suposta substituição do ministro da Fazenda'. Segundo o texto, o presidente Lula 'reafirma que cabe a ele indicar ministros'. E completa: 'O ministro escolhido para ocupar a pasta da Fazenda chama-se Guido Mantega.'

O próprio Mantega classificou de 'especulações' as informações sobre mudanças na equipe econômica e na política do novo governo. 'Não passam de meras especulações, que não têm fundamento e valor', afirmou o ministro, que acompanhou Lula na viagem de São Paulo a Brasília.

O ministro ressaltou que não havia conversado sobre o assunto com o presidente. 'Estávamos fazendo a campanha, ganhando a eleição.' Indagado sobre as possíveis mudanças, disse: 'Está na cabeça de algumas pessoas, não na nossa cabeça. Não é uma preocupação que se colocou.' Mantega disse ainda que o desafio agora é fechar o ano de 2006 realizando todos os projetos que foram estabelecidos, deixando uma base para que o desenvolvimento possa acontecer de forma plena.

Segundo o ministro, é preciso avançar nos projetos. Citou particularmente a votação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, em tramitação no Congresso. 'Vamos retomá-la', disse ele, acrescentando que é preciso recomeçar a discussão da reforma tributária.

Na entrevista, Mantega afirmou que o comportamento da oposição precisa ser cooperativo. 'Agora a eleição terminou, os interesses mudam e a oposição também está preocupada com a melhora do País e a realização desses projetos.'