Título: Fiesp acha que fim da era Palocci só vem com a saída de Meirelles
Autor: Marcelo Rehder, Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Especial, p. H5

Um dia após a vitória do presidente Lula para um segundo mandato, o principal líder empresarial paulista, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pediu a substituição de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central (BC). Para Skaf, sem essa alteração não faria sentido o novo discurso adotado por Lula, segundo o qual o desenvolvimento será a prioridade no segundo mandato.

'Nos últimos dois anos, o BC gastou muito dinheiro com juros e tivemos um prejuízo muito grande com a falta de crescimento do País', disse Skaf. 'Lula é muito inteligente, tem visão ampla e tenho certeza de que, diante dos fatos que ocorreram, ele vai tomar medidas necessárias para o bem do País.'

Se, na avaliação da Fiesp, Meirelles deve ser substituído, o mesmo não ocorre em relação ao atual chefe do Ministério da Fazenda, Guido Mantega. Para Skaf, ele deve ser mantido.

'Mantega mostrou, como presidente do BNDES e como ministro da Fazenda, que está consciente da necessidade de criar condições para o crescimento da economia', afirmou. 'E o ministro da Fazenda tem de ter por parte do presidente do BC total afinamento.'

A saída de Meirelles também foi defendida pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello. 'O BC precisa estar em perfeita sintonia com o Ministério da Fazenda, e não fazer apenas a política monetária ortodoxa, como alguns preconizam.' Segundo ele, um indicador 'incontestável' dos efeitos recessivos da política de juros altos é a queda do consumo de máquinas. De janeiro a setembro, as empresas compraram 2,3% menos máquinas em relação a igual período de 2005.

De maneira geral, o discurso de Lula foi bem recebido pelos empresários, que enxergam nele o fim da era Palocci, marcada por política conservadora na administração da taxa de juros, com efeitos negativos sobre o desempenho da economia.

'A divergência que a gente tinha com o ministro Palocci era de dose, e não de direção', ressalva o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Cláudio Vaz. 'Na verdade, é preciso manter o direção no ajuste fiscal e no controle da inflação, mas calibrando a política com ênfase no desenvolvimento do País.'

Para o diretor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Antonio Correa de Lacerda, a situação do País hoje é muito melhor do que a que existia quando Lula foi eleito. 'Isso permite uma política mais ousada e não defensiva como há quatro anos.'

Considerado um dos pilares da indústria, o setor automobilístico acredita que o primeiro mandato de Lula foi importante para obter o equilíbrio macroeconômico, que agora dá condições para avanços importantes, como o crescimento mais significativo da economia.

'É preciso mudar o patamar de crescimento, que deve ficar acima dos 3% previstos para este ano, mas há um limite, pois não se pode comprometer o equilíbrio conquistado até agora para não voltarmos à estaca zero', disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb.

O executivo reforça a necessidade de medidas como ajuste fiscal, corte de gastos, reformas da Previdência e trabalhista e insiste na redução da carga tributária. 'São essas iniciativas o combustível para atrair novos investimentos e promover o crescimento para tornar o País mais competitivo.' Na avaliação do presidente da Fiat, Cledorvino Belini, o Brasil precisa ter crescimento forte e sustentado do mercado interno para fazer frente aos novos competidores internacionais.