Título: PT articula reaproximação com o presidente
Autor: João Domingos, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Especial, p. H6

A cúpula do PT quer marcar um encontro com o presidente reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em novembro, para definir como será o relacionamento do partido com o governo no segundo mandato. Convictos de que o PT vive um bom momento após a recondução de Lula ao Planalto e a conquista de cinco governos estaduais, dirigentes do partido querem selar a reaproximação com o presidente e negam que estejam preocupados com a redução do espaço petista na montagem do novo ministério de Lula.

'O PT sai muito unido dessa eleição do ponto de vista político', diz o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, que coordenou a campanha de Lula depois do afastamento do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). 'Nós estamos bem e o partido não termina essa campanha sob suspeita.'

O balanço da campanha será feito hoje em reunião da Executiva Nacional do PT , em Brasília. O secretário-geral adjunto do partido, Joaquim Soriano, afirma que a campanha de Lula, no segundo turno, reaproximou-se do programa 'histórico' do PT ao atacar as privatizações de estatais. 'A reaproximação política e programática faz parte da agenda que queremos discutir com Lula', comenta Soriano. 'Não será uma reunião para discutir cargo, mas, sim, o projeto para o Brasil e vamos levar a ele o nosso apoio.' Atualmente, o PT comanda 15 dos 34 ministérios.

Na festa da vitória, Lula agradeceu aos militantes do PT, mas mandou um recado para a cúpula. 'Não temos o direito ético, moral e político de cometer erros daqui para a frente'. O problema é que, até agora, apesar da 'expulsão política' dos quatro 'aloprados' que participaram da compra do dossiê Vedoin, o destino dos petistas ainda não foi discutido. Além dessa pendência, o PT não promoveu ainda o acerto de contas com os deputados que ganharam a pecha de 'mensaleiros'.

REFORMA

Lula defende hoje uma reforma radical na cúpula do PT, um assunto que somente entrará na pauta em 2007, no 3.º Congresso da legenda, que deverá ser realizada em maio ou junho. O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, afirma que o resultado das eleições vai influir na reorganização do partido. O PT ganhou os governos da Bahia, Sergipe, Pará, Piauí e Acre, mas perdeu o Rio Grande do Sul. 'A geografia política das urnas deve se refletir na direção partidária', diz Wagner.

A troca definitiva de Berzoini na presidência do PT ainda causa dor de cabeça no partido. Motivo: ele não renunciou ao cargo. Marco Aurélio tem sido muito elogiado, mas sua intenção é voltar para o governo. Mas Berzoini não voltará a dirigir o PT. 'E nem deve. Houve um prejuízo brutal ao partido por causa dessa crise do dossiê, da qual todos sofremos as conseqüências', comenta o secretário-geral do PT, Raul Pont.