Título: Lula quer governo amplo de olho no Congresso
Autor: João Domingos, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Especial, p. H6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não esperar o fim do mandato para dar início ao segundo governo. Hoje mesmo ele recebe, para almoço, o governador eleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Às 16 horas, receberá o governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB). Dá, assim, início às conversações para a montagem da equipe de seu futuro governo. Lula chamará também para participar de seu governo outros partidos que possam apoiá-lo no Congresso, a exemplo de PP, PDT e PTB.

O PT perderá espaço no governo, mas manterá ministérios importantes. Vários ministros devem permanecer, como Tarso Genro (Relações Institucionais), Guido Mantega (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Luiz Marinho (Trabalho).

Lula também vai procurar personalidades sem partido, com alta representatividade, para ocupar cargos no primeiro escalão. Um nome não sai da cabeça do presidente: o do cardiologista Adib Jatene, ex-ministro da Saúde. Ele o considera o paradigma dos que, embora sem filiação partidária, devem compor qualquer equipe. Um segundo exemplo citado por Lula é o do atual ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que não trabalha com a possibilidade de ficar no ministério, embora o presidente tenha intenção de chamá-lo para continuar.

Outra intenção de Lula é correr atrás de integrantes da oposição que considera dispostos ao diálogo, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e José Serra, tucanos, o senador Marco Maciel (PFL-PE) e o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL). 'O presidente trabalha com um projeto de coalizão, diálogo com as oposições e conceito de um novo governo, melhor, mais forte, apoiado no Parlamento e com mais representatividade da sociedade civil', diz Tarso.

O ministro acredita em entendimento e no diálogo com FHC. 'As evidências indicam que sim. Podemos ter divergências ideológicas, programáticas e até uma visão diferente da globalização', afirma Tarso. 'Mas isso não nos tira o respeito pela figura dele (Fernando Henrique) como presidente, líder político e intelectual. É uma pessoa de responsabilidade. Governou o País dentro das instituições democráticas. Não temos dúvida de que um diálogo é possível e necessário para o País, em cima de pontos concretos, sem transigências programáticas, ideológicas e de princípios.'

Tanto para os aliados quanto para as oposições, Lula insistirá na necessidade de fazer a reforma política, com a aprovação de pelo menos três propostas: financiamento público de campanha, fidelidade partidária e instituição das listas feitas pelos próprios partidos para as eleições à Câmara. Têm a mesma prioridade as propostas de mudança na forma de fazer o orçamento, para tentar reduzir as fraudes e a corrupção.

ENTENDIMENTO

Para buscar a coalizão, Lula pretende dizer aos potenciais aliados que o programa da campanha não será o do novo mandato. Ele sairá do entendimento de todos os partidos que se dispuserem a fazer parte da base de apoio de Lula no Congresso. Será um programa mínimo da coalizão. Mas isso terá um preço: Lula quer que o partido haja como um todo, sem divisão.

'Significa que a crise em um ministério não vai representar uma crise no governo, e sim uma crise na relação de um partido com o governo', explicou Tarso. 'O partido não poderá funcionar dividido. Não é democrático participar de um ministério e ficar dividido no Congresso, de forma a acionar uma guilhotina a cada momento.'

Nessa nova cara do governo, o PT terá de ser muito diferente daquele do primeiro mandato. Como outros partidos da base, terá, no governo, espaço do tamanho da representação no Congresso. 'O PT vai ter de sofrer profunda transformação para acompanhar a evolução positiva que teve o governo Lula e sua abertura para um novo tipo de projeto democrático.'