Título: Requião trata imprensa com sarcasmo e ironias
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Especial, p. H14

A primeira entrevista coletiva de Roberto Requião (PMDB) como governador reeleito do Paraná foi marcada por ataques à imprensa do Estado e do País. Com tiradas irônicas e sarcasmo, ele acusou a mídia de ter trabalhado durante a campanha para desacreditar seu governo perante os eleitores. Disse que, apesar de ter vencido por estreita margem, a aprovação de seu governo é de 75% (pesquisa Ibope anunciada em 6 de setembro revelou que 50% dos paranaenses considera a administração de Requião ótima ou boa e que 67% a aprovam).

Requião afirmou que quase foi derrotado pelo candidato Osmar Dias (PDT) por culpa dos meios de comunicação. 'Houve um bombardeio contra a imagem pessoal do governador, com a colaboração da Rede Paranaense de Comunicação - RPC (jornal Gazeta do Povo e a retransmissora da Globo), dos jornalões, da CBN', disse. Em outro momento, insistiu em que com esses ataques ele caiu nas pesquisas eleitorais.

Cada vez que um jornalista fazia um pergunta o governador aproveitava para atacar o veículo ao qual pertencia. Quando a repórter do jornal Gazeta do Povo indagou se faria mudanças no governo, em razão da pequena diferença dos pouco mais de 10 mil votos que o separaram da derrota, Requião respondeu, com sarcasmo, que convidaria um dos sócios do jornal para ser seu secretário.

Ele reclamou que durante a campanha não compareceu a uma entrevista solicitada pela Gazeta, que então decidiu publicar só as perguntas. 'Eram pergunta sórdidas, perguntas canalhas, perguntas sem ética e sem moral', atacou.

Não foi a única reclamação. Ele atacou a comentarista Miriam Leitão e o repórter Pedro Bial, da TV Globo, por reportagens sobre o Porto de Paranaguá. Disse também que os grandes jornais 'reproduziram sem crítica, sem confirmação e sem o contraditório, as mentiras da campanha do Osmar Dias'. E mais: 'Como vocês vêem, há muito pouca compostura nesse processo e uma guerra ideológica contra o Estado do Paraná, que foi vencida nesta eleição.'

Na opinião do governador, os jornais teriam agido de forma facciosa: 'Isso é absolutamente insuportável para um Estado democrático.'

Ante uma pergunta da repórter da rádio CBN, ele aproveitou para atacar a emissora: 'Quero cumprimentar a CBN pela boca-de-urna que fez pelo meu adversário desde as 8 horas da manhã, botando o Álvaro Dias, o Rubens Bueno e o pessoal todo, despudoradamente, pedindo votos para a coligação do grande capital.'

Quando a repórter perguntou sobre a possibilidade de disputar a Presidência da República, ele respondeu com ironia: 'Estou pensando em comprar a CBN e transformar em rádio cívica, com debates limpos. Vou virar radialista.'

Apesar do clima pesado, um grupo de assessores do governador, presente à coletiva, tratou de puxar palmas para ele em diferentes momentos. Um jornalista lembrou que a atitude de Requião com a imprensa durante a campanha era muito diferente e também foi tratado com ironia: 'O mundo é bom e você também vai ser feliz. E não precisa puxar o saco de patrão aqui.'

Ao final, quando uma jornalista foi ao microfone e começou a fazer sua pergunta, foi interrompida. 'Tínhamos estabelecido uma pergunta para cada órgão', disse Requião. A repórter retrucou que tinha sido autorizada pela assessoria. 'Então está desautorizada por mim', encerrou ele, sob novos aplausos dos assessores.