Título: Alta nos alimentos ameaça inflação no próximo ano
Autor: Leandro Modé
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2006, Economia, p. B3

O primeiro ano do segundo mandato do governo Lula terá pelo menos um ponto a mais de inflação ao consumidor em relação a 2006, por conta da alta dos alimentos e das tarifas. ' Os alimentos e as tarifas não darão a mesma colher de chá para os índices de inflação, como ocorreu neste ano', afirma o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

A pressão dos alimentos já começou a aparecer nos índices de inflação do atacado. O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) da FGV surpreendeu este mês e fechou com alta de 0,47%, ante 0,29% em setembro. O indicador foi pressionado pelos preços no atacado, que respondem por 60% do IGP-M.

O Índice de Preços no Atacado (IPA) subiu 0,65% em outubro, ante alta de 0,36% em setembro. O IPA foi impulsionado especialmente pelas matérias-primas brutas, que ficaram 3,76% mais caras em outubro, depois de terem subido 1,43% no mês passado.

O destaque,observa Quadros, foram os produtos agropecuários, puxado pela soja. O preço do grão subiu 6,90% no atacado neste mês. Em setembro, o preço da soja teve variação negativa de 0,70% .

O economista lembra que já se contava com a perspectiva de aumento da soja por causa da entressafra, mas não nessa magnitude. Segundo Quadros, não há fundamentos de mercado para explicar uma alta nessa proporção. De toda forma, ele lembra que o peso da commodity no indicador passou de 1,5% para 4% a partir deste ano.

O preço do trigo no atacado também disparou neste mês e subiu 17,42%, assim como os bovinos (6,90%), as aves (7,31%), o milho (6,96%) e o arroz (2,74%).

O impacto da alta das matérias-primas brutas foi tão intenso que, nas contas de Quadros, se esse grupo tivesse mantido o ritmo de setembro, o IPA teria sido negativo neste mês e o IGP-M teria ficado estável.

Apesar da pressão dos grãos e das carnes no atacado, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que representa 30% do IGP-M, perdeu fôlego em outubro e fechou em 0,10%, depois de ter subido 0,18% em setembro.

A alimentação, com queda de 0,17%, e os transportes, que registraram deflação de 0,33% por causa do recuo do álcool combustível (5,35%), desaceleraram o IPC. 'Mas essa variação negativa dos preços dos alimentos no varejo vai desaparecer rapidamente', prevê Quadros.

Segundo o economista, é inevitável que o IPC volte a ter variações mensais na casa de 0,30%, que é um patamar mais normal. Ele diz que variação de 0,10% é uma inflação anêmica. Neste mês, o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) voltou a se acelerar e subiu 0,18%, o dobro de setembro (0,09%).

No ano, o IGP-M acumula aumento de 2,73% até outubro. Com o resultado deste mês, Quadros acredita que o indicador feche 2006 em 3,3%, mais alto que o anteriormente previsto, que era abaixo de 3%.

Com isso, tarifas como a de energia, reajustada pelo IGP, terão alta maior em 2007. Este ano, o IGP usado para o reajuste foi de 1,21%, acumulado em 2005.

NÚMEROS

0,47% foi a variação do Índice Geral de Preços, o IGP-M, em outubro

0,29% foi o resultado do IGP-M no mês anterior

6,9% foi a alta da soja em grão no atacado em outubro

0,70% foi a deflação da soja no atacado em setembro