Título: 'Alckmin destrói 2 séculos em 2 minutos'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o adversário Geraldo Alckmin (PSDB) blefa, não tem competência para aumentar o salário mínimo e ameaça jogar um 'monte de dinamite' nas realizações do atual governo. '(Alckmin) é aquele cidadão especializado em destruir em dois minutos aquilo que a gente constrói em dois séculos', acusou.

Em discurso durante encontro com deputados mineiros, no Palácio do Jaburu, residência do vice-presidente José Alencar, Lula aumentou o tom da crítica à política de privatização do governo passado, ressaltando que Alckmin dará continuidade ao 'desmonte'.

'Todo bom jogador de truco sabe que não adianta blefar o jogo inteiro, porque tem uma hora que toma um 6 e estão jogadas as cartas fora', disse. 'Sou jogador experiente, a vida não permite que a gente brinque quando joga truco.'

Adotando postura de vítima do tom agressivo de Alckmin no debate de domingo na TV Bandeirantes, ele defendeu uma disputa 'sóbria e sem demagogia'. Ficou incomodado, especialmente, pela proposta apresentada por Alckmin na TV de vender o avião presidencial para construir cinco hospitais.

Ao começar o discurso, Lula foi surpreendido por gritos de um pavão no jardim. Riu e disse que estava 'competindo com um pavão, que, por outras razões, grita de forma desesperada' - referência às cobranças incisivas de Alckmin no debate.

Ele voltou a dizer que a disputa eleitoral não é entre dois homens ou dois partidos, mas entre dois candidatos com projetos diferentes de Estado e de País. Ressaltou que o governo Fernando Henrique Cardoso não teve 'competência' para dar reajuste aos servidores, vendeu estatais 'necessárias' e manteve a estabilidade fiscal sacrificando o povo.

CAMINHADA

Mais tarde, em Guarulhos, na Grande São Paulo, Lula fez o primeiro corpo-a-corpo do segundo turno e deu uma nova versão para frase que usou a poucos dias da primeira votação, insinuando que já venceria a briga.

'Faltam 20 dias para a oncinha beber água outra vez. E não adianta vir com calúnias e mentiras, porque estou calejado', disse. Quando ainda contava com uma vitória arrasadora, havia dito: 'Dia 1º de outubro é dia da onça beber água e essa oncinha está com sede.'

Em discurso de 10 minutos para quase 5 mil pessoas no calçadão comercial de Guarulhos, o presidente afirmou ter gostado do segundo turno. 'Assim o jogo fica mais claro. O povo vai poder distinguir entre dois projetos: o projeto deles e o nosso.'

A diferença, para Lula, é flagrante. 'O projeto deles, a gente já conhece há muito tempo, porque desde que Cabral pôs os pés aqui, eles governam esse País', repetiu. O presidente arrancou aplausos quando afirmou que seu projeto de governo é o que defende o fim da desigualdade. 'Nós não queremos uma divisão do País entre ricos e pobres, até porque nos não queremos ser pobres', prosseguiu. 'Nós queremos melhorar de vida.'

No discurso, foi retomada a metáfora com o truco: 'Eu queria dizer aos homens que estão aqui e jogam truco, que o blefe tem perna curta. Porque a pessoa pode blefar uma vez, duas vezes, mas uma hora ele vai tomar um seis que vai ter que recuar. Quem joga truco sabe do que eu estou falando.'

Em sua segunda visita a Guarulhos - cidade governada pelo PT - nesta eleição, o presidente foi recebido num corredor com cercas de isolamento, para caminhar pelo calçadão comercial. Ainda assim, distribuiu muitos beijos, abraços e afagos.

No final do calçadão havia um palanque, mas, garantiu o próprio Lula, não havia previsão de discurso. 'Isso aqui não era para ser comício. Já que vocês vieram, não custa então ter um dedo de prosa', brincou.

À noite, Lula participou de evento no Clube de Regatas Tietê, em São Paulo, reunindo um palanque eclético: o cantor e deputado eleito Frank Aguiar, a ex-candidata à Presidência Ana Maria Rangel, prefeitos de PFL, PPS e PDT e o deputado Delfim Netto (PMDB-SP) - que, nos governos militares, era dos ministros mais criticados pelo sindicalista Lula, então no começo de sua militância.

Lula defendeu Delfim, que não se reelegeu. 'Certamente foi considerado traidor de sua classe', afirmou. 'Não quiseram votar nele porque defendia o nosso governo.'