Título: Nakano, do PSDB, propõe controle de capitais e vira alvo de ataques
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2006, Nacional, p. A9

O economista Yoshiaki Nakano, um dos formuladores do programa econômico do candidato tucano Geraldo Alckmin, propôs ontem que o governo adote, em casos especiais, instrumentos de controle de capitais, como a tributação da entrada de investimentos do exterior. Ele sugeriu também que, depois de um ajuste fiscal, os juros no Brasil sejam mantidos no nível do mercado internacional.

Nakano falou em um seminário sobre economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e suas opiniões, que ele disse serem puramente pessoais, serviram para aumentar o tiroteio entre tucanos e petistas, intensificado depois do debate entre os dois candidatos no domingo. A intenção, avisou Nakano ao anunciar suas idéias, é evitar a entrada de recursos do exterior de caráter especulativo, que podem sair rapidamente do País em caso de crise.

'Os governos sempre racionalizam que a conta de capitais está equilibrada e isso desestabilizou a economia brasileira nos últimos anos', disse durante o seminário, referindo-se a crises como as da Coréia, México e Rússia, no final dos anos 90 - que não citou diretamente, mas que também afetaram o Brasil antes do regime de flutuação do câmbio. Apesar de ressalvar que eram opiniões particulares, Nakano tem sido indicado pelo comitê de campanha de Alckmin para falar do programa econômico do tucano.

Mais tarde, em entrevista, o economista disse que a taxa de juros mais baixa pode eliminar a necessidade de controle de capitais. 'Com o juro lá embaixo, o 'boom' de entrada e saída de capitais desaparece. Se o juro for igual ao lá de fora, não precisa controle de capitais', disse.

No quadro traçado por Nakano, o ingresso de fluxo forte de capitais estrangeiros de curto prazo tende a valorizar o real e aumentar o poder de compra. O controle de capitais seria usado 'se o País estiver em situação, que não é permanente, de demanda crescendo e pressionando a inflação'. Segundo Nakano, porém, 'em toda economia em crescimento a capacidade produtiva anda na frente da demanda'. Ele defende metas de inflação entre 2% e 4% ao ano.

O economista propõe que o câmbio seja 'um instrumento para o crescimento e a geração de emprego'. Na sua visão, ele seria flutuante, mas com possibilidade de o governo comprar dólares para desvalorizar o real. Com a moeda brasileira desvalorizada, os produtos nacionais ficam mais baratos em dólar e as exportações seriam beneficiadas. 'Desvalorizar pode, valorizar não pode.' Para comprar dólares, o governo usaria recursos de um 'fundo de estabilização cambial' a ser criado na Secretaria do Tesouro Nacional. Hoje, o BC é o único condutor da política cambial.

Ex-secretário da Fazenda de São Paulo, responsável pelo ajuste fiscal no governo na década de 90, Nakano acha 'fundamental' reduzir o tamanho do setor público. Segundo ele, a parte estatal consome cerca de 45% da riqueza gerada pelo País em um ano (o Produto Interno Bruto). Ele inclui nessa conta 37,4% do PIB de carga tributária, 3,4% do de déficit fiscal e mais 4% de outras receitas, como dividendos da Petrobrás.

O economista defende que o setor público gaste só o que arrecada, baixando a zero o déficit. Também quer que a dívida pública, hoje em cerca de 50% do PIB, seja reduzida para 30% do PIB em dez anos. 'O ajuste fiscal abriria espaço para investimento público em infra-estrutura e faria a taxa de juros cair.' Para ele, 'se o governo não ficar capturando poupança privada, os juros caem sozinhos'.

Na seqüência ao ajuste fiscal, a taxa de juros cairia e poderia se igualar naturalmente à internacional, na opinião de Nakano. Depois disso, deveria ser mantida assim pela política monetária, 'para equilibrar a conta de capitais'. Com a queda do juro, prevê, 'vai acontecer um 'boom' de investimento privado'.

As declarações de Nakano sobre política monetária e cambial são vistas com temor pelo mercado financeiro, que, no entanto, aprecia a postura de rigor fiscal do ex-secretário paulista. O mercado, porém, teve um dia de otimismo, com queda do risco País e alta do Ibovespa, explicado pela expectativa de que as posições de Nakano não venham a prevalecer num eventual governo Alckmin nas áreas monetária e cambial.