Título: Para Mantega, é impossível cortar gasto em 3% do
Autor: Fabio Graner, Adriana Fernandes, Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2006, Nacional, p. A12

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a política econômica num eventual segundo mandato do presidente Lula será marcada por 'gradualismo' e ausência de choques. Num ataque às propostas apresentadas ontem pelo economista Yoshiaki Nakano, um dos coordenadores do programa econômico do candidato tucano, Geraldo Alckmin, Mantega afirmou que seria impossível ao futuro presidente cortar 3% do Produto Interno Bruto (PIB), em torno de R$ 60 bilhões, sem cortar os programas sociais e os benefícios pagos pela Previdência.

'Quero saber quais ovos serão quebrados. É impossível cortar 3% do PIB sem acabar com programas sociais.' A seguir os principais pontos da entrevista:

TERRORISMO ELEITORAL

Eu não tenho praticado nenhum tipo de terrorismo. Eu tenho afirmado que as condições brasileiras são sólidas e adequadas para o crescimento. Nunca vi situação tão sólida quanto agora. Eu faria terrorismo se dissesse que temos risco de ir para uma crise econômica. Pelo contrário, nunca tivemos uma eleição tão tranqüila. Portanto, eu faço o trabalho oposto. Nós fomos vítimas de terrorismo nas eleições de 2002.

PROPOSTAS DE NAKANO

Eu acho que as contas públicas brasileiras não precisam de um choque de 3% do PIB. Não é possível fazer omelete sem quebrar os ovos. Quero saber: quais ovos vão ser quebrados? Como eu sei quais são os gastos públicos, eu digo que é impossível cortar 3% sem acabar com todos os programas sociais. Nem assim dá. Não dá matematicamente. Outra questão: será que é necessário?

JUROS

Nós somos contra choques, contra medidas agressivas porque o Brasil não precisa disso. Estamos numa política gradual de redução de juros e em um ritmo que eu considero adequado.

CÂMBIO

Ele (Nakano) fala em câmbio flutuante, porém administrado. Essa é a modalidade atual. Cerca de US$ 160 bilhões foram comprados ou tirados de circulação por parte do governo. Eu não vejo vantagem em criar um fundo especial como nos EUA. O importante é criar reservas cambiais. A moeda tende a se valorizar com o sucesso na área comercial. O que nós fazemos é mitigar e atenuar essa valorização.

CONTROLE DE CAPITAIS

É contraproducente e inoportuno. O controle de capitais poderia ser útil se tivéssemos um grande fluxo de capital especulativo para o Brasil, o que não é o caso. Na época do Gustavo Franco (presidente do BC no governo FHC), se fazia algum tipo de controle e não deu certo.

METAS DE INFLAÇÃO

Nakano fala de meta de inflação de 2% a 4%, mais ambiciosa. Queria saber como ele vai compatibilizar queda rápida de juros, desvalorização cambial e inflação menor. Baixar juros estimula a demanda agregada, desvaloriza a moeda e encarece as importações. São duas pressões para a elevação dos preços. Como ele vai atingir a meta de 2%? Não faz sentido, é incoerente. Por isso sou a favor do gradualismo, porque conseguimos sintonizar harmonicamente essas variáveis.