Título: China agora pede sanções, mas não aceita ação armada contra Coréia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2006, Internacional, p. A16

Mais importante aliada da Coréia do Norte, a China defendeu ontem a adoção de 'ações punitivas apropriadas' em retaliação ao teste nuclear norte-coreano realizado na segunda-feira. Os chineses, que têm assento permanente e poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, se recusavam até agora à aplicação de qualquer sanção contra o regime de Pyongyang.

Apesar da mudança no que se refere à punição aos norte-coreanos, Pequim manteve sua posição inicial - também defendida pela Rússia e pela Coréia do Sul - de excluir da resolução que deve ser aprovada pelo Conselho de Segurança hoje à noite a possibilidade de uso de força militar. Essa ressalva se contrapõe à proposta inicial dos EUA, que apresentaram um projeto de resolução de sanções com base no Capítulo 7 da Carta das Nações Unidas, que prevê, em última instância, ações militares contra países que ponham em risco a segurança e a paz mundiais. França e Grã-Bretanha, outros dois membros permanentes do Conselho de Segurança, também são favoráveis à evocação do Capítulo 7 no texto da resolução.

'Precisamos dar uma resposta firme e apropriada, mas prudente, ao ensaio nuclear da Coréia do Norte', disse o embaixador da China na ONU, Wang Guangya. Com as sanções, a ONU espera forçar a Coréia do Norte a retomar as negociações de desarmamento iniciadas em 2003 - e suspensas em 2005 - com EUA, Rússia, Japão, China e Coréia do Sul. O regime comunista da Coréia do Norte insiste na abertura de conversações bilaterais com os EUA, que se recusam a um diálogo direto com Pyongyang.

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, declarou ontem à TV CNN que os EUA não têm a intenção de invadir a Coréia do Norte. Na Coréia do Sul, os militares começaram a verificar a prontidão do país para um eventual ataque nuclear da Coréia do Norte, informou a agência Yonhap.

Segundo analistas, o teste nuclear norte-coreano passou dos limites para a China, que dedicou anos de esmerados esforços diplomáticos e arriscou seu complexo relacionamento especial com os EUA, prometendo que conseguiria uma solução negociada para o impasse nuclear. Essa política parece ter fracassado e a ação norte-coreana não dá a Pequim muitas alternativas, senão a adotar uma posição mais dura, indicam os especialistas. Mas os líderes chineses ainda consideram contraproducente a adoção de sanções muito severas.

Segundo alguns diplomatas, a avaliação de Washington é a de que a China tem mais condições políticas de pressionar a Coréia do Norte do que o Departamento de Estado. Os EUA praticamente não têm relações comerciais com os norte-coreanos. A China, por outro lado, é responsável por 70% dos alimentos e quase todo o combustível consumido no empobrecido país vizinho. O comércio entre os dois países movimenta em torno de US$ 2 bilhões anuais. Pequim teme, porém, que sanções econômicas muito rigorosas causem o colapso total da economia norte-coreana, o que poderia resultar em milhões de refugiados famintos atravessando a fronteira e buscando refúgio em território chinês.

'Depois de todo o apoio que receberam (da China), e de todos os esforços dos chineses para resolver a questão pela via diplomática, o teste nuclear foi uma bofetada na cara de Pequim', disse o embaixador americano na ONU, John Bolton.

O projeto de sanções de 13 pontos apresentado na segunda-feira por Bolton, prevê, entre outras restrições, a inspeção de todos os navios cargueiros que cheguem ou partam da Coréia do Norte, para evitar o tráfico de material que poderia ser usado na fabricação de armas. O Japão ampliou a proposta, sugerindo também a restrição dos vôos de e para a Coréia do Norte.