Título: Mercosul pode se abrir mais à UE
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2006, Economia, p. B10

O Mercosul poderá melhorar a sua oferta de abertura do mercado automotivo e de serviços para a União Européia (UE) como forma de convencer Bruxelas a ampliar suas cotas para os produtos agrícolas do bloco. Na primeira semana de novembro, os dois blocos voltam a se reunir no Rio de Janeiro, depois de meses sem contatos formais.

Segundo um dos principais negociadores da delegação uruguaia, Carlos Amorim, uma das hipóteses é a mudança na oferta que o Mercosul fez para abrir seu mercado automotivo. Os europeus querem a inclusão do setor na lista das áreas a serem liberalizadas. Mas, representando um terço do comércio entre as duas regiões, o Mercosul hesita em aceitar a proposta.

A idéia do bloco era propor a redução gradual das tarifas, durante 18 anos. Uma das opções em estudo no Mercosul é acelerar essa abertura, ainda que mantendo o setor como um tema sensível.

A outra proposta seria no setor de serviços, também de interesse dos europeus. 'Estamos em negociações no Mercosul para ver se teremos algo mais a oferecer nesse campo', disse o negociador uruguaio. Segundo Amorim, o Mercosul fará uma nova reunião nas próximas semanas para tentar fechar uma posição para o encontro de novembro.

Em maio, o Mercosul enviou proposta de retomada das negociações aos europeus. Mas a resposta da UE foi considerada insuficiente pelo Mercosul. Para negociadores de Bruxelas, a tentativa de retomada não teve êxito na época porque os europeus ainda esperavam o resultado nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), em julho.

Com a suspensão do processo na OMC, os europeus estariam dispostos a voltar a conversar. Em sua nova estratégia de política comercial, Bruxelas põe ênfase em acordos bilaterais, especialmente com Ásia e o Mercosul. Mas ainda assim mostram pouca margem de manobra para oferecer uma abertura comercial no setor agrícola, como espera o Mercosul.

Segundo o Uruguai, o objetivo de rever a proposta do Mercosul no setor automotivo e de serviços é conseguir que os europeus apresentem cotas mais favoráveis aos setores como o de carne bovina, frango, milho e etanol. 'Em alguns desses casos, já reduzimos nossos pedidos para que ficassem mais próximos do que os europeus podem oferecer', disse Amorim.

Um dos casos é o da carne. O Mercosul queria cotas para exportação 360 mil toneladas por ano, mas reduziu o pedido para 300 mil. No setor de etanol e de milho, o pedido também já foi reduzido. O que os europeus oferecem, porém, fica ainda longe das pretensões do Mercosul. Para a carne bovina, a cota proposta por Bruxelas não passaria de 60 mil toneladas por ano. 'Isso não é sério', afirmou o negociador uruguaio.

Apesar das informações sobre os bastidores das negociações, delegados do Mercosul e da Europa explicam que foram instruídos a manter todos os detalhes das negociações fora do alcance da imprensa.

Um acordo para que nada vazasse foi proposto pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, em uma reunião com o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, em setembro. Em Bruxelas, diplomatas confirmam que o acordo existiu e teria como objetivo fazer avançar as negociações longe dos focos da imprensa.

Quem também continua pedido silêncio é a OMC. Para o diretor-geral da entidade, Pascal Lamy, o processo suspenso em julho só será retomado quando houver 'mudanças substanciais' nas posições dos governos. Até lá, pede negociem em silêncio.