Título: Kirchner força congelamento de preços até 2007
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2006, Economia, p. B11

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, arrancou dos donos de supermercados o compromisso de manter congelados os preços de quase 400 produtos até dezembro de 2007. O acordo original, assinado no fim de 2005, tinha prazo até dezembro de 2006.

Com o novo e antecipado prolongamento, Kirchner tenta blindar seu governo de uma eventual escalada da inflação até depois das eleição presidencial de outubro do ano que vem, em que pretende candidatar-se à reeleição. Em troca, o governo prometeu moderar as negociações por aumentos salariais. Os sindicatos anunciaram que em 2007 vão pedir aumento de 15%. Mas os assessores do presidente indicam que eles terão de se contentar com 10%.

O governo tomou a decisão de prolongar o congelamento de preços depois de verificar que a inflação de setembro havia sido de 0,9%, maior que a prevista. A inflação acumulada noa ano é de 7,1%. A meta oficial é de menos de 10% em 2006.

A inflação é o maior pesadelo do governo Kirchner, já que a cada 1% de aumento, o número de pobres aumenta em 100 mil pessoas. Mas, para grande parte dos economistas portenhos, o congelamento é 'antiquado e autoritário'.

Nos próximos dias haverá a negociação com os 'chinos', como são chamados os minimercados no país, por serem, majoritariamente, de propriedade de imigrantes chineses e coreanos, que controlam 40% do setor em Buenos Aires.

ARMA NA MESA

Informações extra-oficiais dizem que, desde o início do ano, o Secretário de Comércio, Guillermo Moreno, inicia reuniões com os empresários colocando um revólver sobre a mesa. Segundo os rumores, o simbolismo do gesto intimida os empresários. O resultado é que todos assinam os acordos impostos pela administração Kirchner.

Os setores rebeldes têm sido castigados. Como ocorreu com a Shell, que no ano passado aumentou o preço de seus combustíveis. Kirchner convocou um boicote nacional ao vivo, pela TV. A empresa recuou. No início do ano foi a vez dos pecuaristas, que se recusavam a reduzir o preço da carne. Kirchner suspendeu quase todas as exportações. Vendo que seus contratos eram cancelados e outros países conquistavam seus mercados, os empresários cederam.

Nesta semana, Moreno voltou à carga. Novamente, o alvo foi o setor de combustíveis. Ele criticou a escassez de diesel e ameaçou com ordens de prisão os empresários que não seguirem à risca a Lei de Abastecimento. 'Não é problema nosso como conseguem diesel. É problema das empresas.'