Título: Presidente sugere a metroviários catraca livre no lugar de greve
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2006, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu ontem aos trabalhadores de serviços como o metrô que, em vez de fazer greve, liberem as catracas para que o povo possa passar. A sugestão foi dada durante entrevista para a TV Record, quando foi perguntado a ele se era ou não contrário à greve nos serviços essenciais. 'Um trabalhador que trabalha no metrô não precisa parar; ele pode abrir as catracas para o povo andar de graça.' Lula disse ainda que não haverá como controlar as invasões de terra e de propriedades pelos movimentos sociais enquanto não for resolvida a questão da reforma agrária. 'É assim a vida.'

Lula iniciou a entrevista aparentemente tranqüilo, mas mostrou irritação com a repórter Adriana Araújo por duas vezes. Ficou impaciente quando ela disse que ele não havia conseguido fazer a economia crescer. Chegou a fazer gestos ríspidos e murmurar alguma coisa. 'Eles diziam quando eu tomei posse que o Brasil estava quebrado, que dificilmente se recuperaria. Hoje o Brasil tem reservas de mais de US$ 76 bilhões, mais do que a dívida externa líquida, gera em média 105 mil empregos por mês.' Lula disse ainda que a economia brasileira não cresceu tanto quanto ele queria, mas garantiu que agora nada a impedirá de ultrapassar a taxa de 5% ao ano. 'Não existe terremoto, intempérie, crise externa que façam o Brasil deixar de crescer acima dos 5% ao ano.' Quando lembrado de que prometeu 10 milhões de empregos em 2002 e não conseguiu criá-los, irritou-se de novo. 'Criamos 7,6 milhões de empregos, dos quais 5 milhões e um pouco com carteira profissional assinada.'

O presidente afirmou ainda que está preparado para os três debates que virão, reconheceu que foi pego de surpresa por não ter vencido a eleição no primeiro turno e criticou seu opositor, o tucano Geraldo Alckmin, que, segundo ele, foi muito agressivo no debate da TV Bandeirantes. 'Quando a gente está na televisão, está conversando com uma pessoa sentada no sofá. Não pode gritar, não pode ser agressivo, ficar inventando história para deixar uma pessoa em dificuldade', disse Lula. Ele concluiu que acabou sendo beneficiado pela postura de seu adversário. 'O que aconteceu é que depois do debate eu só cresci e ele (Alckmin) só caiu.'

Lula afirmou que entende o fato de Alckmin ter-se mostrado muito agressivo no debate. 'Acho normal eu já fui oposição muito tempo - que a oposição fique sempre tentando encontrar defeitos na situação e a situação sempre tentando encontrar virtudes para se contrapor. Faz parte do jogo e a sociedade brasileira aos poucos está aprendendo a conviver com isso.'

Indagado se a quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de seu ex-assessor Freud Godoy e a convocação de oito petistas próximos a ele pela CPI dos Sanguessugas não vão atrapalhar seu desempenho no segundo turno da votação, Lula disse que não crê nisso. 'Acho que as pessoas têm que investigar. Se as pessoas estiverem investigando com seriedade, se tiver as informações que a sociedade brasileira precisa saber, ótimo; se estiverem fazendo pirotecnia por conta do processo eleitoral, quem perde é quem faz o show.' Lula disse temer apenas que a CPI dos Sanguessugas fique fazendo espetáculo com o sigilo dos petistas e não avance nas investigações. Para ele, quem errou deve pagar pelo que fez.

O presidente afirmou ainda que não teme a pressão da sociedade e do Congresso num eventual segundo mandato. 'Você conhece algum momento na História do Brasil em que o governante governou sem pressão? O Congresso é o resultado da sociedade brasileira. Uma coisa é o Congresso tentar me xingar, outra é fazer o trabalho de votar.'

Quanto à acusação dos oposicionistas, de que sua campanha faz terrorismo eleitoral e que criou a 'mentirobrás', Lula deu mostras de que nada será mudado e que continuará a dizer que o PSDB vai privatizar estatais se vencer. 'Não invento as coisas. O PSDB tem uma história. A história do PSDB é uma privatização sistemática. Eles contraem dívidas e depois vendem estatais para pagar.'