Título: Empresário cita propina para amigo de Barjas
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2006, Nacional, p. A10

O empresário Ronildo Medeiros afirmou ontem à Justiça que depositou dinheiro de propina da máfia dos sanguessugas em contas de Abel Pereira, empreiteiro de obras públicas e amigo do ex-ministro da Saúde Barjas Negri (governo FHC). Abel será ouvido pela Polícia Federal segunda-feira no inquérito que investiga o dossiê Vedoin, pelo qual petistas iriam pagar R$ 1,75 milhão, em dólares e reais.

Medeiros declarou ao juiz Jefferson Scheinneder, da 2ª Vara Federal de Cuiabá, que repassava a Abel o equivalente a 6,5% do valor de cada uma das ambulâncias vendidas a cerca de 500 prefeituras entre 2001 e 2002.

Naquele período, Barjas exerceu primeiramente o cargo de secretário-executivo do Ministério da Saúde. Na seqüência, assumiu o posto de ministro, no lugar de José Serra, atual governador eleito de São Paulo, que na época saiu para disputar a Presidência da República.

Medeiros é proprietário de duas empresas, a Frontal e a Medical Equipamentos Hospitalares. Investigação da Procuradoria da República e da PF revela que essas empresas teriam sido constituídas para forjar resultados de licitações.

Desses processos de concorrência também participava a Planam, empresa central no esquema das ambulâncias superfaturadas que desfalcou o Tesouro em R$ 110 milhões.

EMENDAS

A Planam foi criada por Luiz Antonio Vedoin, que a PF e a procuradoria acusam formalmente de liderar a ação sanguessuga dentro do Congresso. Pelo menos 72 parlamentares, entre deputados e senadores, produziram emendas para a área da saúde propiciando liberação de recursos em série para administrações municipais.

A PF e a procuradoria sustentam que Medeiros foi empregado da Planam. Para dar aparência de legalidade às licitações, Vedoin excluiu Medeiros de seu quadro de funcionários e o orientou a abrir a Frontal e a Medical.

As empresas de Medeiros participaram de vários certames de compra de ambulâncias, vencidos pela Planam. À Justiça Federal, Medeiros disse ontem que fez os depósitos em contas de Abel por indicação de Darci Vedoin, pai de Luiz Antonio.

SILÊNCIO

Acusado por Vedoin de ser o intermediário do esquema durante a passagem de Barjas pelo ministério, Abel diz não ter envolvimento com a máfia dos sanguessugas. O empresário também é investigado pela suspeita de que teria tentado comprar o silêncio dos donos da Planam antes da divulgação do dossiê, outro fato que ele também nega.