Título: CPI só ouvirá petistas após eleição
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2006, Nacional, p. A10

Integrantes da CPI dos Sanguessugas protestaram ontem contra a decisão do presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), de marcar os depoimentos dos petistas envolvidos no escândalo do dossiê Vedoin para depois do segundo turno das eleições.

Biscaia, que tem a prerrogativa de marcar a data dos depoimentos, agendou para 31 de outubro, dois dias depois da votação, a ida de três petistas à CPI: Jorge Lorenzetti, ex-chefe de inteligência da campanha de Lula; Gedimar Passos, ex-agente da Polícia Federal, e o empresário Valdebran Padilha - estes dois últimos presos com o R$ 1,75 milhão que seria usado na compra do dossiê.

'Estranhamente, não vamos ter reunião da CPI na semana que vem', disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

'Do ponto de vista político, era interessante marcar os depoimentos dos envolvidos com o dossiê o mais rápido possível. Mas, do ponto de vista da investigação, creio que não é possível a CPI chegar à frente da Polícia Federal', ponderou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).

'Não sei qual é a razão de não haver depoimentos na próxima semana. Realmente, algumas pessoas poderiam ser ouvidas agora', defendeu o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Anteontem, a CPI aprovou requerimentos para a convocação de oito petistas envolvidos com a compra do dossiê, que serviria para tentar ligar candidatos tucanos à máfia das ambulâncias. A comissão aprovou também convite a depor para quatro ex-ministros da Saúde: dois do PSDB (José Serra e Barjas Negri), um do PT (Humberto Costa) e um do PMDB (Saraiva Felipe). Todos os depoimentos serão depois das eleições.

CÓPIA

O vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), passou o dia analisando o inquérito aberto em Mato Grosso sobre o caso. Com Sampaio, ele deve ir hoje a Cuiabá, para obter uma cópia do relatório do delegado Diógenes Curado.

'É possível que o relatório apresente indícios veementes da origem do dinheiro. Pode até caracterizar ação partidária, ou seja, que o PT fez um movimento que é criminoso sob o enfoque eleitoral', disse Sampaio.

Depois de ler o inquérito, o tucano confirmou que o dinheiro para o dossiê veio do PT. 'Agora, aonde o PT foi buscar o dinheiro é que não se tem. E a expectativa é de que o delegado diga isso em seu relatório.'

Segundo Jungmann, o juiz de Mato Grosso Jefferson Scheinneder, responsável pelo inquérito do dossiê, disse que 'os criminosos que fizeram o translado e a retirada do dinheiro para a compra dos documentos são profissionais'. 'É coisa de criminoso, bandido profissional e competente. Eles fizeram de tudo para evitar o rastreamento, para burlar o Coaf, para impedir que fosse detectada a origem do dinheiro.'

O vice-presidente da CPI reclamou da demora da PF em enviar à CPI a quebra do sigilo telefônico de Hamilton Lacerda, ex-assessor de campanha derrotada de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista. Também cobrou o rastreamento feito pela PF dos US$ 109.800 encontrados com petistas para compra do dossiê. 'O juiz já autorizou o envio desses dados para a CPI, mas até agora a PF não encaminhou nada', criticou Jungmann. 'Foi tudo autorizado pelo juiz, mas até agora não chegou nada', disse Delgado.