Título: Última decisão do ano terá emoções
Autor: Renée Pereira, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2006, Economia, p. B3

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros (Selic), para 13,75% ao ano - o menor nível desde que essa taxa foi criada, em 1986. Apesar disso, o juro real (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) brasileiro continua o maior do mundo, em 9,3% ao ano. Essa taxa já esteve em 9,2% em 2004, antes do ciclo de aperto monetário, que foi de setembro de 2004 a maio de 2005.

A decisão de ontem, unânime e sem viés (tendência), confirmou a expectativa majoritária do mercado financeiro, que apostava na continuidade do ritmo de queda da taxa por causa dos índices comportados de inflação e pelo modesto crescimento econômico do País.

No comunicado divulgado após a penúltima reunião do ano, o Banco Central (BC) repetiu a frase do encontro realizado em agosto, cujo resultado foi igual ao de ontem, e afirmou que a decisão foi baseada em avaliações macroeconômicas e perspectivas de inflação. Trata-se do 11º corte consecutivo, desde setembro do ano passado, quando teve início a queda da Selic.

Nesse período, os dirigentes do BC reduziram os juros em 6 pontos porcentuais, de 19,75% para 13,75% ao ano. Foram três reduções de 0,75 ponto porcentual, sete de 0,50 ponto e uma de 0,25 ponto. Apesar de ser o maior período de afrouxamento da política monetária da história, o País continua na liderança dos maiores juros reais do mundo. Segundo levantamento da consultoria UpTrend, com o corte de 0,5 ponto, a taxa real do Brasil caiu de 9,4% para 9,3% ao ano, à frente de Turquia (6,2%) e China (4,8%). A explicação está na redução das perspectivas de inflação. Apesar de a taxa nominal cair, a inflação também recuou, explica Jason Vieira, da UpTrend.

O fato colabora para a gritaria do setor produtivo e para as apostas de continuidade da queda dos juros na reunião que ocorre nos dias 28 e 29 de novembro, a última do ano. Segundo o economista sênior do Unibanco, Darwin Dib, a trajetória favorável dos índices de inflação para 2007 leva a crer que o período de queda da Selic esteja longe do fim. A expectativa dele é de que na reunião do mês que vem o BC reduza a Selic em 0,25 ponto. 'Mas, dependendo dos indicadores de inflação e atividade econômica nesse meio tempo, pode vir mais 0,5 ponto', diz ele, que também espera corte de 0,25 ponto nas primeiras quatro reuniões de 2007.

Para o economista do Banco Prosper Carlos Cintra, se o cenário atual se mantiver até a próxima reunião, a redução pode ser de 0,5 ponto. Isso porque o ritmo da atividade está fraco. 'A economia ainda não sentiu o impacto do corte de 6 pontos porcentuais nos juros desde setembro de 2005. O estímulo ainda não apareceu na demanda.'

Na avaliação do ex-economista da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) Roberto Troster, quem apostar numa queda de apenas 0,25 ponto em novembro vai errar. 'Será mais 0,50 ponto. O câmbio está fazendo a mágica no Brasil', afirma ele, que acredita em juros de 1 dígito no fim de 2007. 'Há condições para isso.'

Banco do Brasil e Bradesco já anunciam redução

O Bradesco e o Banco do Brasil (BB) anunciaram ontem, imediatamente após a divulgação da nova taxa Selic, corte de juros em diversas modalidades de crédito para o consumidor e as empresas. No Bradesco os juros do cheque especial para pessoa física, por exemplo, caíram de 8,05% ao mês para 8,01% na taxa máxima, e de 4,48% ao mês para 4,45% ao mês na taxa mínima. As reduções vigoram a partir de hoje.

No Banco do Brasil entre as reduções, válidas a partir de amanhã, o BB Giro Automático para microempresas terá taxa de 2,44% ao mês. O BB Giro Rápido terá taxa mínima de 2,18% ao mês e máxima de 2,52%. No crédito consignado para aposentados e pensionistas, a taxa cai conforme o prazo: 6 meses (1,20%), 12 meses (1,87%), 24 meses (2,29%) e 36 meses (2,44%).