Título: Lula acusa golpe e diz que dia do debate foi 'um dos mais tristes' de sua vida
Autor: Tânia Monteiro, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2006, Nacional, p. A4

Um dia depois de ser confrontado pelo adversário no primeiro debate do qual participou nesta eleição e de ser indagado sobre o dossiê Vedoin, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou duramente o adversário Geraldo Alckmin (PSDB), a quem chamou de 'arrogante' e 'pedante'. Em discurso de improviso para 30 cantores de música gospel, que foram ontem ao Palácio da Alvorada para transmitir apoio à sua candidatura, Lula condenou o nível do debate na Rede Bandeirantes.

'Ontem pensei que não estava na frente de um candidato, pensei que estava na frente de um delegado de porta de cadeia', desabafou. Foi além, dizendo que foi 'um dos dias mais tristes' de sua vida de político.

Ao se referir à insistência de Alckmin em saber de onde veio o R$ 1,7 milhão para a compra do dossiê, Lula ironizou: 'O cidadão é um samba de uma nota só.' Afirmou que o ex-governador não apresentou propostas e só quis falar sobre corrupção.

Depois de lembrar que já debateu com inúmeros políticos 'de bom nível', citando Ulysses Guimarães, Fernando Collor e Mário Covas, emendou: 'O povo não quer ver um candidato xingando o outro, quer saber o que é que vai fazer para melhorar a vida dele, dar emprego, crescer mais. Lamentavelmente, não foi isso que aconteceu, para minha tristeza e do povo.'

'IRRITADOS'

Muito aplaudido pelos evangélicos, Lula disse que Alckmin 'pegou notas de jornal' com denúncias e transformou isso no seu programa. 'Então, é aquela sanfona quebrada, que só faz o mesmo som', atacou. Disse que o adversário 'representa o jogo de interesse dos grupos que tradicionalmente mandam no Brasil desde Cabral'. E bateu: 'É um grupo de interesses arrogante, pedante, das pessoas que falam com nariz em pé como se tivessem mais autoridade do que o resto do planeta.'

'Eu, possivelmente, seja o único brasileiro que governou este País nos últimos anos com autoridade para falar de corrupção. É fácil não sair corrupção nos jornais, é só engavetá-las, é só colocá-la embaixo do tapete do sofá', provocou o presidente.

Ele disse que os adversários estão 'irritados' e 'vão ficar muito mais' porque, na comparação entre seu governo e o do antecessor, ele 'ganha em todos os itens'. Comentou que a 'elite política' está sendo 'implacável' com ele, como teria sido com Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas e João Goulart. E avisou que espera participar de muitos debates ainda.

SARNEY

No discurso aos evangélicos, Lula criticou o Plano Cruzado, adotado no governo do seu aliado José Sarney, e defendeu a atual política econômica. 'Resolvemos não inventar mágica. Nós resolvemos fazer nossa politicazinha arroz, feijão, bife acebolado. Todo mundo gosta, nacional, internacional, e ninguém reclama. Pode querer mais um bife, ou menos cebola, mas todo mundo gosta.'

O vice-presidente José Alencar também atacou Alckmin pelo que chamou de 'tom agressivo' e 'desrespeitoso'. 'Acho que ele marcou um gol contra ele', comentou, opinando que Lula foi 'educado, respeitoso e sereno'. E lembrou a Bíblia para dizer que 'os humildes serão exaltados e os exaltados serão humilhados'.