Título: Ordem é fazer petista treinar mais para próximos confrontos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2006, Nacional, p. A5

Os coordenadores da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que ele foi mal preparado para o debate inaugural do segundo turno, na noite de anteontem. O próprio candidato admitiu a assessores ter ficado atônito com o tom agressivo adotado pelo tucano Geraldo Alckmin - surpresa que fez o petista demorar a reagir, reconhecem auxiliares. Diante da constatação, a ordem é preparar Lula com mais cuidado para o próximo confronto.

Os petistas já esperavam perguntas sobre os escândalos de corrupção, mas previam que Alckmin teria um comportamento menos contundente. A coordenação da campanha de Lula fez ontem uma reunião de emergência e concluiu que o presidente recebeu das assessorias de diversas áreas do governo subsídios incompletos, o que o impediu de fazer o que mais queria: comparações entre sua gestão e a do antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

'Já entendi. A única coisa que eles querem é isso (falar de corrupção)', disse Lula, logo depois do debate, no avião que o levava de São Paulo a Brasília. Entre os auxiliares com quem ele conversou durante o vôo, estavam os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Dilma Rousseff (Casa Civil) e o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT). 'Daqui para a frente, estarei mais preparado para qualquer pergunta',disse.

PRIMEIRO TURNO

Assessores do Planalto consideram que Lula está destreinado. Lembram que ele não participou dos debates do primeiro turno e, ao longo do mandato, concedeu só duas entrevistas coletivas, mesmo assim com pouco espaço para réplica dos jornalistas. Com isso, perdeu o hábito do confronto direto.

Lula contou aos auxiliares ter avaliado durante o debate que não podia reagir no mesmo tom dos ataques,porque é presidente, o que dá mais peso ao que fala. De qualquer forma, houve consenso de que ele não soube encontrar a fórmula adequada.

Apesar de tudo, os petistas viram aspectos positivos nas primeiras pesquisas qualitativas realizadas após o programa. Entre os eleitores mais pobres e com menos instrução, faixa em que Lula tem seus melhores índices de intenção de voto, o candidato tucano foi visto como 'agressivo' e 'metido'.

ERROS

Foi estabelecida até uma comparação com um episódio ocorrido na eleição para governador do Distrito Federal em 1998. No último debate da disputa, o então governador Cristovam Buarque, na época filiado ao PT, demonstrou enorme preparo intelectual. Acabou, porém, humilhando o oponente, Joaquim Roriz (PMDB), ao apontar até erros de português. O peemedebista venceu a eleição, com votação esmagadora nas cidades-satélites que cercam a capital.

Agora, os petistas torcem para que Alckmin sofra os efeitos do que já chamam de 'efeito Roriz'.