Título: 'Externei a indignação do povo', diz Alckmin
Autor: Ana Paula Scinocca, Vanice Cioccari
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2006, Nacional, p. A6

Satisfeito com sua performance no primeiro debate eleitoral do segundo turno, o candidato Geraldo Alckmin afirmou ontem que o tom adotado por ele no duelo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi reflexo da indignação de toda a sociedade com a corrupção que atinge o governo de seu oponente.

'Acho que externei o sentimento de indignação do povo brasileiro. Isso estava parado na garganta de todo mundo. Fui um instrumento do povo, não com raiva, mas com indignação', disse o candidato tucano. 'Não podemos achar que o que vem acontecendo no Brasil seja normal. Não é normal.'

Menos de 24 horas depois do debate na TV Bandeirantes, Alckmin voltou a reclamar de Lula e responsabilizá-lo pela 'boataria' segundo a qual, se eleito, o tucano privatizaria empresas públicas, encerraria o Bolsa-Família e acabaria com a Zona Franca de Manaus. 'As coisas precisam ficar bem claras e (acabar com) toda essa mentirada do Lula, e ainda pelas costas', advertiu, ao voltar a negar ter intenção de privatizar Banco do Brasil, Petrobrás, Correios e Caixa Econômica Federal. 'É tudo mentira', disse.

Antes de se reunir com os presidentes do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e do PPS, deputado Roberto Freire (PE), no comitê da campanha em São Paulo, Alckmin disse ter sentido nas ruas o resultado de sua performance. 'Estive na rua hoje (ontem) cedo e quase não consegui andar', ressaltou, avaliando que seu comportamento mais duro no debate foi bem aceito pelo eleitorado.

DIRETO

Mais uma vez, Alckmin cobrou de Lula a origem do R$ 1,75 milhão para a compra do dossiê Vedoin. 'O Lula fugiu do debate no primeiro turno e não respondeu de onde vem o dinheiro. Ficou duas horas fugindo da explicação.' O tucano foi direto ao comentar a acusação do presidente de que ele teria saudades do tempo em que presos eram torturados para que revelassem informações: 'Não precisa torturar ninguém para saber. É só chamar seus amigos do PT.'

Apesar de manter o tom do debate de domingo, Alckmin disse que a questão central da etapa final da disputa ao Planalto é a econômica: crescimento, emprego, renda e trabalho. Em segundo lugar, segundo o tucano, está a qualidade dos serviços públicos e, na seqüência, ética, princípios e valores. 'O tom não é agressivo. Eu estou zen.'

GRAVAÇÃO

Depois da reunião com os coordenadores políticos, o tucano foi para a produtora do marqueteiro Luiz Gonzalez, onde passou parte da tarde e o início da noite gravando cenas para o horário eleitoral. Gonzales disse que o PSDB deve usar trechos do debate no programa da TV.

Mais tarde, na frente da produtora, Alckmin comentou a afirmação de Lula, de que o tucano se comportara como um delegado. 'Essa declaração é desespero. Acho que o Brasil merece seriedade, nos atos e nas palavras inclusive.'

O candidato do PSDB também defendeu Barjas Negri, ministro da Saúde no final do governo Fernando Henrique. Disse que é mentira que houvesse qualquer contrato da empresa de Abel Pereira com a Secretaria do Trabalho, como Lula afirmara no debate. 'Mandei até checar, porque o Lula disse ontem no debate que a Secretaria do Trabalho teria contratado uma empresa de um tal de Abel, que eu nunca vi na minha vida', disse. 'É mentira'.

Alckmin retoma hoje sua agenda de viagens pelo País. Estará em Belo Horizonte, onde se reúne com lideranças.