Título: Bomba ainda não permite uso militar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2006, Internacional, p. A17

A bomba atômica da Coréia do Norte explode - e isso é tudo. O artefato não permite, ainda, emprego militar. É muito grande, mede cerca de 3,4 metros e pesa 4 toneladas. Para ser acomodado na ogiva do míssil Taepo Dong-3, de longo alcance, precisa diminuir de tamanho, chegar até 2 metros. E emagrecer, para perder 2 mil quilos.

A detonação rendeu cerca de um terço da capacidade projetada, coisa de 20 quilotons, segundo os serviços de inteligência da Rússia.Um quiloton equivale a 1.000 toneladas de explosivo convencional.

Na eventualidade de que tenha chegado a produzir 15 kilotons, poderia devastar uma área do tamanho da ilha de Manhattan, em Nova York. Com 5 kilotons, seria uma arma tática, para uso em zonas de combate. Contra grandes concentrações de pessoal e equipamentos do inimigo, por exemplo.

O feito dos cientistas do centro secreto de pesquisas Yongbyon, todavia, não é pequeno. Apoiados por especialistas do Paquistão, da China e da Rússia ( todos voluntários, como declaram os governos desses países), processaram urânio suficiente para produzir plutônio e alimentar a bomba. Um longo e complexo procedimento que passa, primeiro, pelo domínio da tecnologia do combustível nuclear.

A carga da arma é uma esfera metálica, de alta densidade e do tamanho de uma laranja. A explosão atômica começa com a detonação de uma espécie de capa, formada por placas, geralmente de desenho sextavado e absolutamente iguais, de agentes químicos de ruptura. Cada seção da cobertura, ligada a um complexo gatilho eletrônico, é disparada simultaneamente de todas as direções, provocando uma enorme onda de pressão - entre 8.500 e 12.000 metros por segundo - sobre a bola de plutônio, que entra em fissão, liberando extraordinárias quantidades de energia; térmica principalmente.

O teste subterrâneo realizado ontem pela Coréia do Norte, em Kilju, foi cuidadoso. A área é montanhosa, marcada por profundas formações rochosas. O poço, com 1.500 metros de profundidade, deve ter sido revestido de anéis de metais especiais para conter e dirigir a explosão, de acordo com os dados divulgados pelas agências especializadas de Moscou.

Os satélites americanos de sensoriamento remoto, que certamente monitoram o local para os serviços de informações, não encontrarão resíduos radioativos na atmosfera.

A próxima etapa do programa será dedicada à miniaturização, à eletrônica fina dos componentes e à engenharia da ogiva. O transportador da bomba é o míssil Taepo Dong-3, um esguio gigante de três estágios, 35 metros de comprimento e 64 toneladas. A ogiva real conduzirá de 800 kg a 1 tonelada - um terço do peso estimado do artefato utilizado no ensaio. É o limite máximo para alcançar alvos no Alasca, no Havaí ou na costa oeste dos EUA.