Título: Cai de novo a previsão de safra
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2006, Economia, p. B3

A estiagem dos últimos meses na Região Sul puxou um pouco mais para baixo as previsões para a safra deste ano, que vinham sendo reduzidas mês a mês desde dezembro. Segundo estimativa feita em setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada ontem, o volume total de grãos e oleaginosas deve atingir 116,5 milhões de toneladas este ano, 0,76% a menos do que na previsão de agosto, ou 10,2% a menos do que no início do ano.

Apesar disso, a safra de 2006 ainda é 3,5% superior à de 2005. 'Não dá para falar em crescimento de produção, mas sim em recuperação, já que no ano passado a quebra foi muito maior', diz o técnico do IBGE Paulo Renato Corrêa. Em 2005, a produção ficou em 119 milhões de toneladas, 5,63% abaixo de 2004 e bem menor do que o recorde de 123,6 milhões de toneladas de 2003.

Para o consultor André Pessoa, da Agroconsult, a quebra de safra por problemas climáticos poderia ter sido minimizada se tivesse sido priorizado o seguro agrícola. 'Problemas com o clima existem em qualquer lugar do mundo. A diferença é que em outros países os produtores são protegidos por seguros e também com subsídios do governo a estes seguros.'

O consultor destacou que o governo federal falhou ao tentar implementar a lei do seguro agrícola, porque não garantiu dotação orçamentária para tal. 'Foram destinados R$ 60 milhões para a cobertura deste seguro. Este valor não dá sequer para cobrir a produção de soja no Tocantins. Só para a área de soja no Brasil seriam necessários R$ 4 bilhões.'

TRIGO

A nova queda na expectativa teve influência direta da quebra de safra do trigo no Rio Grande do Sul e no Paraná. Segundo o IBGE, a estimativa para o trigo caiu 23,43% em setembro sobre agosto, atingindo 2,557 milhões de toneladas. O volume também é 45% menor do que em 2005. 'Muito aquém das nossas necessidades', disse Corrêa. Esse resultado é o menor desde 2000, e fica próximo do nível do início dos anos 80. Com este resultado, a previsão é de que o Brasil se torne este ano o maior importador de trigo, numa escala de 8 milhões de toneladas.

Além da estiagem de abril e maio e das geadas de agosto e setembro, a redução de 25,39% no total de áreas plantadas nos Estados produtores e a baixa cotação do produto no mercado interno e das dificuldades de venda nas últimas safras estão entre as causas para a quebra da safra do trigo. Além disso, a descapitalização dos produtores, aliada à inadimplência e conseqüente restrição ao crédito, resultou numa safra com baixo nível tecnológico.