Título: Atirador invade escola amish na Pensilvânia e mata três meninas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Internacional, p. A4

No quarto ataque armado a escolas dos EUA em uma semana, Charles Roberts, de 32 anos, matou ontem três pessoas - duas alunas e uma auxiliar de ensino - e feriu outras sete numa escola de uma única sala no interior de uma comunidade rural amish da Pensilvânia, antes de suicidar-se. Os amishes são religiosos cristãos protestantes que se caracterizam por renunciar ao uso de máquinas e aparelhos modernos (ler abaixo).

O atirador, que não pertencia à comunidade, invadiu a escola pela manhã, quando 27 alunos - 15 meninos e 12 garotas, de 6 a 13 anos - estavam no prédio. Armado com uma espingarda, uma pistola automática, um fuzil e duas facas, Roberts dominou alunos, professores e funcionários e amarrou todas as meninas com fita adesiva ao quadro negro. Depois de libertar uma funcionária grávida e outras três mulheres que tinham crianças de colo, passou a disparar contra as meninas - principalmente na cabeça, caracterizando execução. Uma garota e a auxiliar de ensino, um pouco mais velha do que as alunas, morreram na hora. Outra aluna morreu nos braços de um policial.

O número de mortos pode aumentar, pois, segundo a polícia, o estado de duas das alunas feridas era ¿crítico¿ ontem. ¿Só por um milagre não perderemos duas garotas que sobrevivem graças a aparelhos¿, disse o chefe da polícia do Condado de Lancaster, Jeffrey Miller.

Alguns meninos foram baleados nos braços. O atirador se matou depois do cerco armado pela polícia. ¿A cena do crime é horrorosa¿, prosseguiu Miller. Lancaster, onde se localiza a comunidade amish, fica a cerca de 100 quilômetros da capital da Pensilvânia, Filadélfia.

Roberts, pai de três filhos e sem passagem pela polícia, dirigia um caminhão que transportava leite para a comunidade e outras cidades da região. Segundo Miller, ele deixou uma carta para a família dizendo que se vingaria por ¿algo ocorrido há 20 anos¿ - que não foi revelado. ¿A carta é uma nota de suicídio vaga e sem muito sentido¿, explicou o policial. Ao encontrar a carta, a mulher de Roberts tentou falar com ele pelo celular. ¿Ele disse a ela que não voltaria para casa¿, afirmou Miller.

O incidente na Pensilvânia foi o mais recente de uma série de ataques a escola que tem chocado os EUA nos últimos dias. Segundo a pesquisadora da Universidade de Princeton Katherine Newman, autora de Rampage: The social roots of school shootings (Desordem: As raízes sociais dos ataques a escolas, numa tradução livre), a seqüência se deve a um efeito de imitação, entre pessoas desequilibradas psicologicamente. ¿Quando houve o massacre de Columbine, em abril de 1999, muitas pessoas diziam: `Eu farei a mesma coisa¿¿, disse Katherine, por telefone, ao Estado. ¿A recente onda de atentados a escolas americanas pode ser dividida em dois grupos¿, prossegue. ¿O incidente na escola amish e o da semana passada no Colorado envolvem pessoas de fora da comunidade que atacam a escola por ódio, contra a comunidade ou a sociedade em geral.¿ Segundo Katherine, ¿um assassino que não tem vínculo com a comunidade e aparece para cometer um atentado é muito mais difícil de ser contido¿.

Já os casos em que os autores de ataques são membros da comunidade demonstram, em geral, jovens desajustados que podem, em casos extremos, apelar para esse tipo de vingança. ¿Esse tipo de ataque ocorre em pequenas comunidades, onde todos se conhecem e os autores sentem-se constantemente rejeitados pelos outros habitantes¿, disse Katherine. ¿O ataque é visto como oportunidade de mudança de reputação. Em vez de perdedores, eles preferem ser vistos como perigosos.¿

A Casa Branca informou que o governo federal organizará na próxima semana uma conferência com autoridades policiais e de educação para discutir formas de prevenir ataques em escolas.