Título: Farc cedem e propõem diálogo de paz
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Internacional, p. A6

Na mais radical mudança de posição desde 2002, a guerrilha marxista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) propôs ontem ao governo o início de negociações de paz na seqüência de um processo de troca de 59 reféns - incluindo a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt - por cerca de 500 guerrilheiros presos. A oferta de trocar os presos por reféns foi feita pelo governo na semana passada e aceita, em princípio, pelas Farc no fim de semana. Por meio do representante que designou para realizar os contatos com as Farc, Álvaro Leyva, o governo do presidente Álvaro Uribe recebeu com reservas, mas otimismo, a proposta de ir além da troca, apresentada numa carta aberta assinada pelo principal negociador da guerrilha, Raúl Reyes.

¿Se a troca (dos reféns pelos prisioneiros) fracassar, nenhuma dessas intenções sairá do papel¿, disse Leyva. ¿É fundamental que criemos condições para garantir que o episódio da libertação seja totalmente bem-sucedido e, se isso ocorrer, acredito que o país terá surpresas agradáveis todos os dias.¿

Em agosto de 2003, em entrevista ao Estado, Reyes havia descartado qualquer possibilidade de diálogo com Uribe - a quem acusava de vínculos com os paramilitares de direita, adversários tanto das Farc quanto da guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN).

Na maior concessão às Farc feita até agora por Uribe, ele aceitou desmilitarizar dois municípios do sul, Florida e Pradera (800 km²), pelo período de 45 dias, para que sirvam de sede para o diálogo sobre a troca de presos. O presidente autorizou ontem o alto comissário para assuntos de paz, Luis Carlos Restrepo, a acertar com as Farc detalhes sobre a criação da chamada ¿zona de encontro¿.

Ambos os lados, porém, condicionam suas ofertas. Uribe assinala que só haverá troca de presos após a garantia de que as Farc não usarão a área ¿para operações criminosas¿. Para iniciar acordos de paz, as Farc pedem a desmilitarização de dois departamentos (Estados), Caquetá e Putumayo (113.850 km² no sul do país), a suspensão das ordens de captura de seus líderes e um pedido do governo para que o grupo deixe de ser considerado internacionalmente uma organização terrorista, entre outras demandas.

Em 2002, negociações entre o governo e as Farc, iniciadas em 1999, foram suspensas. A guerrilha foi acusada de utilizar uma área desmilitarizada de 42 mil km² para fortalecer-se militarmente, como cativeiro para reféns e plantar folha de coca.