Título: Bush insiste em sanções duras, mas diz que não pretende atacar Coréia
Autor: AP e Reuters
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2006, Internacional, p. A19

Horas antes, regime de Pyongyang afirmara que pressão dos EUA será tomada como "declaração de guerra"

AP e Reuters

O presidente americano, George W. bush, disse ontem que os EUA buscam "com os aliados da região e no Conselho de Segurança da ONU uma fórmula para assegurar que o regime norte-coreano sofra conseqüências graves" pelo teste nuclear que realizou na segunda-feira. Em meio a uma complicada disputa doméstica, na qual seu Partido Republicano está ameaçado de perder o controle da Câmara e do Senado nas eleições de 7 de novembro, bush tenta livrar-se das acusações da oposição democrata de que sua política externa abriu o caminho para o teste norte-coreano e busca encarregar os vizinhos do país asiático de convencer a Coréia do Norte a desarmar-se.

bush disse que seu governo "não tem intenção de atacar a Coréia do Norte", mas reiterou que os EUA "não descartam nenhuma das opções que têm sobre a mesa". O presidente americano também rejeitou qualquer possibilidade de negociar diretamente com o governo norte-coreano, como exige o regime comunista. "Eu me lembro quando se dizia: "A administração bush age sozinha no mundo". Agora, de repente, as pessoas estão dizendo: "A administração bush deve agir sozinha com a Coréia do Norte"", disse bush. "Pois queremos resolver isso diplomaticamente, e nossos parceiros devem mostrar sua mão diplomática forte."

Pouco antes, na primeira declaração pública de uma autoridade norte-coreana desde o teste nuclear, o segundo homem mais poderoso do regime do país, Kim Yog-nam, advertiu ontem que o reforço das sanções contra Pyongyang será considerado uma "uma ação hostil", que poderia "forçar a Coréia do Norte a uma resposta militar".

"Se os EUA continuarem nos acusando e nos pressionando, tomaremos isto como uma declaração de guerra e colocaremos em ação uma série de medidas concretas", dizia, em outra manifestação, uma nota do Ministério de Relações Exteriores da Coréia do Norte, divulgada pela agência de notícias estatal.

Na mesma nota, o regime norte-coreano ameaçou realizar um novo teste nuclear a qualquer momento, caso Washington insista na pressão contra Pyongyang e as rigorosas sanções defendidas por EUA e Japão, que ampliariam o isolamento do país comunista, sejam aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Na sede da ONU, em Nova York, diplomatas dos EUA tentavam redesenhar um esboço de sanções que pudesse ser aceitável principalmente para a diplomacia chinesa - que, na véspera, pela primeira vez, concordou com a aplicação de punições à Coréia do Norte, mas não por meio de uma resolução que inclua a possibilidade de uma ação militar. A intenção de Washington era a de aprontar e submeter o projeto de resolução à votação do Conselho de Segurança ontem mesmo, mas, diante do pouco avanço nas discussões, a apresentação foi adiada para hoje.

Principal interlocutora de Pyongyang, a China se vê diante de um dilema: precisa reagir ao regime do ditador norte-coreano, Kim Jong-il, que ignorou os pedidos de Pequim para que evitasse a escalada nuclear; mas não pode aceitar castigos que exponham o regime ao colapso, o que resultaria no êxodo de milhões de norte-coreanos famintos para seu território.

"Há uma série de desacordos", admitiu o embaixador dos EUA na ONU, John Bolton. Washington pretende aprovar uma moção com base no Capítulo 7 da Carta da ONU, que abriria a possibilidade de uma ação militar, caso as sanções sejam violadas. Bolton acrescentou que a resolução se destinará a afetar "a elite" e não o povo do país.