Título: Lula diz que segundo turno é forma de Deus colocá-lo à prova
Autor: Wilson Tosta, Felipe Werneck
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2006, Nacional, p. A7

Em seu primeiro comício no Estado do Rio na campanha do segundo turno - o primeiro com o apoio de um amplo setor do PMDB e do candidato do partido ao governo fluminense, Sérgio Cabral - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que ele e Cabral não ganharam a eleição no primeiro turno por vontade divina. "Acho que não ganhamos as eleições porque Deus quis nos colocar à prova", disse o presidente em comício na Praça do Pacificador, no centro de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, ontem à noite.

"Estava muito fácil. "Sérgio vai ganhar no primeiro turno", "Lula vai ganhar no primeiro turno". Todo mundo achando que não precisava fazer nada. Mas não ganhamos e agora é hora de vocês saberem quem é quem na política brasileira", explicou Lula.

Diante de uma multidão estimada pelos organizadores em 12 mil pessoas, mas que não ultrapassou 7 mil segundo a PM, Lula repudiou as acusações de querer dividir a sociedade entre ricos e pobres. "Eu não quero dividir, eles dividiram", afirmou, referindo-se à oposição. "Quero governar para todos, mas os pobres terão a preferência no meu governo", declarou. O presidente voltou a acusar seu adversário, Geraldo Alckmin (PSDB), de querer privatizar estatais como a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Os tucanos negam a intenção e acusam Lula de intencionalmente fazer terrorismo eleitoral.

"A verdade nua e crua é que agora temos de escolher entre duas propostas políticas. De um lado, os adversários do Sérgio, os meus adversários, o que eles querem? Querem vender o restante das coisas que não venderam no passado. Querem privatizar o que resta para privatizar nesse País. Querem vender o que tem para pagar a dívida que eles mesmo fizeram", acusou o candidato à reeleição. "Nosso projeto é outro, nosso é fazer com que nosso País se torne uma Nação soberana."

O presidente acusou a governadora Rosinha Garotinho (PMDB) de ter recusado parcerias com o governo federal porque seu marido, Anthony Garotinho, era candidato a presidente. Depois, apoiou Alckmin.

Cabral não pareceu constrangido com a crítica ao casal, que o apóia. Ao comentar investimentos anunciados pelo governo federal de R$ 400 milhões em segurança durante os Jogos Panamericanos, Cabral afirmou que não se trata do "plano de segurança do caveirão", em referência ao carro blindado usado pela PM em incursões em favelas, criado no governo Garotinho. O candidato afirmou ainda que, se eleito, em parceria com o governo federal, terá condições de dobrar o número de pessoas beneficiadas pelo programa Bolsa-Família no Estado, que hoje tem 400 mil cadastrados.

O palanque de Lula estava decorado com a frase "Não troque o certo pelo duvidoso. Quero Lula de novo". Foi tocado novo jingle, também centrado na idéia de continuidade e de não correr riscos.