Título: Delegados criticam politização
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Especial, p. H4

Delegados da Polícia Federal rebelaram-se contra a estratégia do governo de fazer 'uso político-eleitoreiro' da instituição. Eles decidiram protestar publicamente contra declarações de autoridades ou entidades, inclusive partidos, que criticam a PF a partir do episódio sobre o dossiê anti-José Serra, do PSDB.

Marco Aurélio Garcia, coordenador de campanha do presidente Lula à reeleição, suspeita que o delegado Edmilson Bruno, da PF em São Paulo, teria obtido alguma vantagem para divulgar imagens do R$ 1, 75 milhão que o PT amealhou para comprar o dossiê.

Garcia sustenta que o delegado teria dito a jornalistas, ao entregar as fotos, que a meta era 'ferrar o PT'. Tarso Genro, coordenador político do governo Lula, afirma que 'certamente ocorreu algum tipo de articulação de alguém do PSDB com alguém da Polícia Federal, que violou as normas processuais e fez essa exibição.'

O repasse do CD à imprensa ocorreu na sexta-feira, antevéspera da eleição. O delegado Edmilson Bruno não mencionou ter nenhum objetivo político.

Os delegados sustentam que a PF é apartidária, 'sem qualquer interesse no desfecho da campanha eleitoral'. Repudiam 'a pirotecnia das operações que fizeram a agenda positiva do governo federal'. Eles se referem às ações espetaculares que a PF executou desde o início do governo Lula.

Policiais avaliam como 'um ato de retrocesso' a ocultação do dinheiro do PT, porque nas outras operações não houve preocupação em preservar nem o rosto dos investigados.

'A Polícia Federal, sabe-se lá por ordem de quem, esconde fatos, pessoas, imagens, gerando um dos maiores constrangimentos para a categoria', protesta a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal.

Delegados consideram fundamental a adoção de medidas que assegurem a autonomia orçamentária e financeira da PF, 'garantindo à autoridade policial as prerrogativas de inamovibilidade e vitaliciedade'.

Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça e superior hierárquico da PF, afirma por meio de sua assessoria que jamais interferiu na decisão da PF de liberar ou não as imagens do dinheiro. O ministro sustenta que a PF é uma polícia republicana, que investiga 'de forma impessoal, sem perseguir e sem proteger'.