Título: Governo agora quer rapidez na investigação da compra do dossiê
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Especial, p. H4

Agora, o governo tem pressa. O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, determinou à PF de Mato Grosso que conclua o mais rápido possível o inquérito sobre a compra, pelo PT, do dossiê Vedoin, que teria supostas irregularidades na gestão tucana no Ministério da Saúde. A ordem é apresentar a solução do caso antes do segundo turno, incluindo a identificação da origem do dinheiro, a lista de responsáveis e o papel de cada um na operação. Lacerda da PF também ordenou controle rígido do fluxo de informações, para evitar vazamentos.

São os primeiros reflexos do resultado da eleição sobre a apuração do escândalo, apontado como causa principal para a queda do presidente Lula. O governo avalia que, quanto mais rapidamente for concluído o caso, mais tempo o comitê de campanha de Lula terá para administrar a repercussão do caso.

O prazo não será longo. As investigações levarão 20 dias, segundo autoridades que as acompanham. Neste momento, a PF trabalha em duas frentes. Uma é esmiuçar os telefonemas que os petistas Gedimar Passos, que era do núcleo de inteligência da campanha de Lula, e Valdebran Padilha fizeram logo antes de 15 de setembro, quando foram presos com R$ 1,75 milhão, que pagaria o dossiê. Outra é localizar a origem do dinheiro, identificando os sacadores dos dólares e reais.

A análise das ligações já permite concluir, por exemplo, que há envolvimento do ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso, que foi do comitê de campanha de Lula, e de Hamilton Lacerda, ex-coordenador de campanha do senador Aloizio Mercadante ao governo paulista. No caso de Lacerda, identificado pela PF como um dos portadores do dinheiro entregue a Gedimar no Hotel Íbis, há pelo menos três ligações horas antes da entrega do dinheiro.

A PF cogita inquirir Gedimar pela terceira vez, para tentar extrair mais detalhes, logo após a conclusão da análise dos extratos telefônicos. Foi essa análise que deixou evidente a participação de Expedito no escândalo e levou a PF a requisitar do Banco do Brasil dados sobre saques em dinheiro no período que antecedeu a compra do dossiê.

Contra Lacerda também pesam as imagens registradas pelas câmeras do hotel. No dia 13 de manhã ele aparece entrando no quarto com Gedimar, carregando uma sacola. Perto da meia-noite do dia 14, Lacerda, com duas sacolas e um computador na mão, se encontra com Gedimar no saguão e sobe com ele até o quarto. Em seu depoimento, Lacerda alegou que levou roupas, um laptop e material de campanha para Gedimar e afirmou desconhecer que o dossiê seria comprado.

Na última semana, a PF solicitou às companhias telefônicas a identificação dos donos de dezenas de números para os quais os dois petistas ligaram. Além disso, está comparando os números identificados com a agenda de Lacerda. O exame abrange todas as ligações desde agosto, quando a negociação começou.

De todas as tarefas do inquérito sobre o dossiê, a mais próxima de ser concluída é localizar o sacador dos US$ 248 mil encontrados com Gedimar e Valdebran. A PF já está rastreando nomes da lista dos mais de mil recebedores finais do lote de US$ 15 milhões de onde saíram os dólares e sabe que uma única pessoa sacou R$ 110 mil de várias agências de câmbio.