Título: Um dia para esquecer a imagem de 'chuchu'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Especial, p. H6

Com um largo sorriso estampado no rosto, Geraldo Alckmin fez sua primeira aparição pública ontem, dia seguinte ao primeiro turno da eleição presidencial, pouco antes do meio-dia, em frente de sua residência, no Morumbi. Depois de ter passado a manhã atendendo a telefonemas de políticos que o cumprimentaram pelo êxito nas urnas, seguiu para seu escritório político, no Itaim, também na zona Sul, para reuniões de definição da estratégia da campanha no segundo turno e análise do desempenho de sua candidatura nos Estados.

Pouco depois das 14 horas, Alckmin conferiu a sensação de ter deixado para trás a imagem do candidato 'chuchu' - referência a seu estilo pouco vibrante -, assumindo uma atitude mais entusiasmada diante do assédio dos eleitores nas ruas.

Ao lado do coordenador-geral de sua campanha, Sérgio Guerra (PE), do vereador tucano Tião Farias e dos interlocutores Edson Aparecido e João Carlos de Souza Meirelles, almoçou no restaurante self-service Paladar Real em frente ao escritório.

Para chegar até lá, levou algum tempo por causa da abordagem das pessoas na rua. 'Parabéns, presidente! Meu voto foi seu e vai continuar sendo', disse uma eleitora. 'O senhor vai chegar lá. Pelo amor de Deus, o senhor tem de vencer o Lula.'

Entre apertos de mãos, distribuiu beijos e abraços e, como se fosse um popstar, até autógrafos. Enfim, serviu-se de arroz, estrogonofe de carne, salada de alface e beterraba. Foram apenas 325 gramas, que custaram R$ 6,46, e uma latinha de coca-cola.

Conhecido por ser mão fechada, Alckmin não escondeu a felicidade quando quebrou a rotina e deu R$ 5 de gorjeta. Entre uma garfada e outra, apoio de eleitores e críticas de uma, que se identificou apenas como Rose e lhe cobrou explicações. 'Governador, vamos esclarecer o dinheiro do dossiê (Vedoin). Mas vamos também esclarecer o dinheiro dos vestidos da dona Lu (referência aos vestidos que sua mulher aceitou do estilista Rogério Figueiredo).' Visivelmente constrangido, deu um sorriso amarelo e afirmou: 'Um abração, querida!'

À saída, a receita de outro eleitor para que se torne o futuro presidente. 'Tem de pegar pesado', afirmou um senhor sobre a linha da campanha no segundo turno. Alckmin respondeu de bate-pronto. 'Vamos mandar bala.'

Depois do almoço em restaurante popular, o ex-governador entrou em uma lanchonete ao lado. Brincou com os funcionários e tomou um cafezinho. Pagou e, novamente, deu gorjeta. Desta vez, apenas R$ 1.

Tido como um homem contido, Alckmin celebrou a ida para o segundo turno na noite de anteontem e também ontem com discrição. Dispensou seus auxiliares e comemorou a vitória pessoal apenas com a família. Enquanto comandava a TV, trocando os canais a todo momento, a filha Sophia acompanhava a apuração a seu lado com um computador portátil. Foi só quando ouviu as declarações do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio Mello, confirmando que haveria segundo turno, que o candidato festejou - mas sem brindes. 'Chegamos lá, mas não tem nada ganho.'