Título: ACM perde a força: 'Derrotado não fala'
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Especial, p. H17

Inimigos, adversários e até carlistas de expressão nacional são unânimes em afirmar que o grande derrotado nas eleições da Bahia, onde o petista Jaques Wagner sagrou-se governador, é o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Além de amargar o despejo do governador Paulo Souto, que era o favorito na disputa pelo Palácio de Ondina, ACM perdeu a briga pelo Senado, com o amigo e senador Rodolfo Tourinho, e ainda viu a bancada federal encolher seis cadeiras, com a eleição de apenas 13 pefelistas, contra os 19 vitoriosos de 2002.

Foram tantas as derrotas, que nem o próprio ACM contesta que é o grande perdedor. 'Derrotado não fala; espera. E eu estarei esperando, amando sempre a Bahia, cada vez mais', afirmou ontem um ACM resignado, que até a véspera da eleição apostava que seu grupo cresceria tanto no Congresso quanto na Assembléia Legislativa, onde os adversários consideram que a maioria obtida agora nem tomará posse porque não resistirá ao assédio do novo governo até o fim do ano.

'Estamos assistindo ao ocaso de um oligarca', definiu ontem o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), satisfeito com a façanha eleitoral que lhe rendeu o título de peemedebista mais votado do Brasil, com 287 mil votos, além de emplacar o velho aliado e ex-prefeito de Brumado Edmundo Pereira, como vice de Wagner.

'Eu, que sempre fiz este enfrentamento com ACM, estou muito feliz de ter dado uma contribuição maiúscula e efetiva para derrotá-lo e, o que é melhor, com ele vivo, assistindo à minha vitória', gabou-se Geddel, insistindo que é o deputado mais votado do Estado. 'Só passaram à minha frente dois filhotes', explicou, referindo-se ao campeão de votos ACM Neto (PFL-BA) e a Fábio Souto, filho do atual governador.

Jaques Wagner já conversou com Lula por telefone depois da vitória. Ele próprio contou ontem que, no telefonema, o presidente lembrou a referência pública que fez a ACM, em discurso no último comício da campanha no Estado: 'Eu fui à Bahia e transformei o leão no hamster, e você derrotou o hamster no dia 1º de outubro.'

CARLISMO

Infortúnios à parte, o professor e cientista político Paulo Fábio Dantas, autor de uma tese de doutorado sobre o carlismo na Bahia, adverte que é precipitado tirar conclusões sobre a derrocada do grupo de ACM. 'ACM é uma liderança em declínio, mas esta derrota não decreta o fim do carlismo. Nem é o fim do mundo nem a fundação de nada', analisou o professor, para quem o resultado eleitoral significa apenas que o carlismo vai para a oposição ao governo estadual. 'Trata-se de um momento de afirmação de uma nova política, o que não tira importância da vitória de Wagner, até porque o PT não derrotou um moribundo.'

O professor Paulo Fábio avalia que o resultado da disputa pela Presidência da República será 'crucial' tanto para o grupo de ACM quanto para a frente de oposição que se considera vitoriosa com Jaques Wagner e inclui nove partidos que participaram da coligação eleitoral do petista. Ele considera que a virada do PSDB, com o eventual sucesso da candidatura presidencial de Geraldo Alckmin, pode ser a 'tábua de salvação para o carlismo'.

Talvez por isto mesmo ACM tenha anunciado ontem sua disposição de concentrar esforços na campanha presidencial do candidato tucano.

'Vamos fazer a campanha do Alckmin. Vamos à luta', disse o senador, ao lembrar que seu grupo perdeu o poder na Bahia em 1986, com a vitória do atual ministro da Defesa, Waldir Pires, mas voltou em 1990.

Os estudiosos do carlismo consideram que o declínio do grupo não é um fato em si, mas um processo que ganhou força em 2002, quando o grupo perdeu a prefeitura da capital para o PDT do prefeito João Henrique Carneiro, e acentuou-se agora, com a derrota para o PT no governo estadual. Observam que ACM também já perdeu o controle da máquina judiciária e não tem mais a influência do passado sobre os tribunais Eleitoral e de Justiça.

O próprio Jaques Wagner ressalta a importância do sistema eletrônico de votação, reforçando o velho discurso petista de que Waldir Pires foi vítima de fraude eleitoral quando disputou o Senado.