Título: 2º turno anima mercado financeiro
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Economia, p. B3

A disputa acirrada entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) verificada no primeiro turno das eleições presidenciais animou o mercado financeiro. Isso porque os dois cenários traçados anteriormente pelos analistas mostravam Alckmin com mínimas condições de vencer, mesmo se fosse para segundo turno, explicaram analistas. Mas, com a diferença entre os dois candidatos menor do que se esperava, os investidores já apostam numa vitória do tucano.

O resultado surpreendente aliado à divulgação de indicadores americanos dentro da expectativa do mercado fez o mercado acionário fechar em terreno positivo. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a subir 2,37%, para 37.316 pontos, mas recuou e terminou o pregão com alta de 1,67%, aos 37.057 pontos.

As ações mais beneficiadas foram a de setores regulados, como o de energia elétrica: o índice das companhias do setor subiu 2,26%. 'Isso porque Alckmin já declarou que vai reforçar o papel das agências reguladoras no seu governo', explicou o economista-chefe da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi.

No mercado de dívida, os títulos brasileiros negociados no exterior terminaram o dia em alta. O A-Bond subiu 0,18%, para 110,15% do valor de face, e o Global 40, 0,31%, para 130,75%. Com isso, o risco país, que reflete a confiança dos investidores estrangeiros na capacidade de o Brasil honrar seus compromissos, recuou 0,86%, para 231 pontos. O risco dos emergentes terminou estável em 208 pontos. No mercado de câmbio, o dólar fechou em queda pelo quinto dia consecutivo. A moeda americana terminou cotada por R$ 2,158 com recuou de 0,60%. No ano, o dólar apresenta desvalorização de 7,18%.

A expectativa do mercado para os próximos dias é de alta volatilidade, dependendo especialmente das novidades na área política. 'Se o Alckmin continuar subindo, os preços dos ativos vão melhorar. Se Lula disparar, a turbulência será maior', afirmou o gerente de renda fixa do Banco Prosper, Diego Beleza. Segundo ele, a arrancada do candidato tucano foi muito rápida nos últimos dias e espera-se a continuidade dessa escalada.

Até sexta-feira, o mercado dava como certa a vitória de Lula no primeiro turno e manteve razoável tranqüilidade, já que nada mudaria na política econômica. De outro lado, os analistas temiam problemas de governabilidade no segundo mandato de Lula depois do escândalo do dossiê contra o candidato tucano José Serra, então candidato ao governo de São Paulo. Essa preocupação aumentou depois do resultado das eleições de domingo, explicou a economista da Tendências Consultoria Integrada Alessandra Ribeiro.

Segundo ela, a nova bancada do Congresso Nacional é mais favorável a Geraldo Alckmin, o que em tese facilitaria a aprovação da agenda de reformas necessárias ao desenvolvimento do País. 'A grande preocupação dos investidores é se o novo presidente vai ou não conseguir aprovar as reformas. Nesse ponto de vista, teme-se que Lula não tenha força para conseguir fazer mudanças.'

Caramaschi afirmou que, embora as propostas de Alckmin sejam genéricas, o mercado tem mais simpatia pelo tucano e não espera nada negativo. 'Ele é a favor de alguns temas que agradam ao mercado. Mas o Lula também não é mais visto com desconfiança pelos investidores. É mais do mesmo.'