Título: Em 2005, UE e EUA aumentaram subsídios
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Economia, p. B4

Europa e Estados Unidos aumentaram seus subsídios agrícolas em 2005 em comparação a 2004, enquanto passavam horas negociavam com Brasil e outros países emergentes fórmulas sobre como deveria ser feita a liberalização dos mercados agrícolas. Dados oficiais divulgados nos dois lados do Oceano Atlântico mostram que a Comissão Européia teve um aumento de 11% em seus subsídios no ano passado, enquanto os americanos registraram um crescimento da ajuda aos fazendeiros em quase 100% entre 2003 e 2005.

As negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) chegaram a um impasse em julho quando os países não conseguiram chegar a um acordo sobre como seria feita a liberalização dos mercados agrícolas. Os europeus não aceitavam promover um corte maior de suas tarifas de importação enquanto os Estados Unidos não anunciassem planos de cortes mais profundos de seus subsídios.

O resultado foi a interrupção do processo, que deve ser retomado apenas em novembro. Mas dados publicados pelos governos mostram que, enquanto negociavam concessões dos países emergentes, o que Bruxelas e Washington faziam era aumentar o volume de recursos destinados aos produtores.

Um informe do Ministério de Comércio do Canadá aponta que os subsídios americanos foram de US$ 19,6 bilhões em 2005, contra US 18,6 bilhões em 2004 e US$ 10,2 bilhões em 2003. Nesse período, produção agrícola americana passou de US$ 215 bilhões em 2003 para US$ 234 bilhões em 2004 e voltou a cair para US$ 231 bilhões no ano passado.

A proposta dos Estados Unidos na OMC colocaria um teto nos subsídios de US$ 22 bilhões, o que na realidade ainda permite que a Casa Branca aumente US$ 3 bilhões no volume que está distribuindo.

Não por acaso, os europeus passaram a fazer duras críticas contra a proposta americana. O problema é que Bruxelas também aumentou seus subsídios.

Em 2005, dados oficiais da União Européia apontam que a entidade deu US$ 48,5 bilhões a seus fazendeiros, 11% acima dos níveis de 2004.

Só a França recebeu quase um quinto de todo o dinheiro.

Europa prepara política comercial

Temendo as conseqüências negativas de uma paralisia por alguns anos nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), a União Européia (UE) anuncia amanhã sua nova política comercial até 2010. O foco estará nos acordos bilaterais, principalmente com a Ásia, ainda que o entendimento com o Mercosul não está esquecido.

Ao mesmo tempo em que Bruxelas anuncia seu novo projeto, o governo alemão prepara discretamente as bases para que Europa e Estados Unidos iniciem a negociação da criação de uma área de livre comércio entre os dois pilares da economia mundial.

A estratégia será anunciada pelo comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, ciente das limitações na OMC para que um acordo seja fechado em 2007. O objetivo, portanto, seria a de instaurar uma ofensiva diplomática para conseguir que países reduzam suas barreiras aos produtos europeus, principalmente os mercados emergentes.

Mandelson admitirá que terá de fazer certas concessões na área agrícola, mas espera que os ganhos no setor de serviços, industriais e de investimentos possam compensar os eventuais prejuízos.

Na lista de prioridades da UE, o acordo com o Mercosul que há dez anos está sendo negociado não será esquecido. Em novembro, os dois blocos se reúnem, mas os europeus evitam dar qualquer sinal de que trarão uma nova oferta de abertura de seu mercado.