Título: Petista bateu recorde de pastas, tucano ameaça cortar
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2006, Nacional, p. A4

O País nunca teve tantos ministérios quanto no atual governo. São 34, incluindo as cinco secretarias especiais criadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O quadro vai ser mantido, caso Lula seja reeleito.

Se o vitorioso for Geraldo Alckmin, o tucano não fugirá à regra adotada por todos os novos presidentes, desde a redemocratização: grandes mudanças na estrutura do primeiro escalão. A redução no número de ministérios é uma das promessas do tucano. O mais provável é que Alckmin, se eleito, acabe com as secretarias especiais, que têm status de ministério e as transfira para pastas já existentes. São as secretarias especiais de Direitos Humanos; de Política para Mulheres; de Aqüicultura e Pesca; de Política de Promoção da Igualdade Racial; e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Alckmin também poderá fundir ministérios e, assim, acabar com aqueles criados por Lula: das Cidades, do Turismo e do Desenvolvimento Social. Os tucanos são cautelosos ao tratar do assunto, para não espantar parte do eleitorado. ¿Os ministérios que são pura espuma não vão continuar, mas temos que ter cuidado ao falar disso, porque podemos ser mal-interpretados. E aí estaremos fazendo o jogo deles¿, diz um dos comandantes da campanha do PSDB.

Ao assumir, em janeiro de 2003, Lula criou, além das cinco secretarias especiais, quatro novos ministérios, um deles o da Segurança Alimentar, extinto um ano depois. Começou a governar com 36 ministérios, aumento de nove pastas em relação ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

Ao longo do governo, Lula fez várias mudanças, fusões e remanejamentos e hoje tem 34 ministros. É um recorde na história da República, que começou com apenas três ministérios: Fazenda, Guerra e Marinha.

O número de ministros do governo petista sobe para 35, se for incluído o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que ganhou o status em polêmica medida provisória editada pelo presidente em 2004. A oposição disse que a intenção era dar foro privilegiado a Meirelles, que na época se defendia da suspeita de omitir rendimentos obtidos no exterior. O governo justificou que era uma questão de ¿segurança jurídica¿, devido às ¿funções estratégicas¿ do BC. Os petistas lembraram que Fernando Henrique deu status de ministro ao advogado-geral da União, mantido até hoje.

Se Lula for reeleito, vai substituir os técnicos desconhecidos que ocuparam lugares dos políticos candidatos e acomodar os companheiros, mas manterá a estrutura do Executivo, que tem mais de 489 mil servidores só da ativa. Uma das estratégias dos petistas neste segundo turno é disseminar que o adversário vai demitir servidores.

Embora jamais pronuncie o termo demissão, Alckmin tem pregado com insistência contra o ¿aparelhamento¿ dos ministérios pelo PT e partidos aliados. Sabe, no entanto, que não vai escapar da engenharia de levar os aliados para o governo. Alckmin tem sido incisivo na crítica ao excesso de ministérios, mas comedido no detalhamento de seus planos para enxugar a máquina e reduzir gastos. No programa de governo, fala em redução do número de ministérios, mas não diz o que será feito. Apesar disso, caiu na tentação da promessa de criar o Ministério da Segurança Pública.

¿Ministério que não tem o que gastar não devia existir, é enganação¿, diz o economista Raul Velloso. ¿Diminuir ministérios e órgãos é sempre melhor do que aumentar. O problema é que os candidatos prometem diminuir, mas acabam aumentando para acomodar aliados.¿