Título: Uma encruzilhada para definir o futuro do País
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2006, Nacional, p. A6

O novo presidente, que será escolhido no dia 29 terá pela frente um conjunto de decisões cruciais, que provavelmente definirão se o País, ao final do próximo mandato, em 2010, estará trilhando ou não um novo ciclo de desenvolvimento acelerado. As escolhas vão desde as mais conceituais, como tamanho e papel do Estado, até as que envolvem de forma mais imediata o dia a dia dos cidadãos, como as intervenções no tecido deteriorado das periferias das metrópoles, ou a melhora de qualidade da educação básica.

Há quase um consenso entre diversos especialistas ouvidos pelo Estado de que o presidente eleito terá grande dificuldade em aprovar mudanças institucionais importantes com os atuais sistema político e quadro político-partidário. O acirramento da rivalidade entre os principais partidos e a dificuldade de obter maioria no Congresso indicam que a reforma política pode ser a única forma para aumentar a governabilidade e abrir caminho para as mudanças necessárias. Mas não será fácil aprovar uma reforma que mexe diretamente com os interesses dos próprios políticos que vão votá-la.

Na economia, o novo presidente vai partir de uma situação de estabilidade inédita na história do País. Para Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações, ¿a estabilidade cambial mudou o funcionamento estrutural da economia brasileira¿. Na gestão macroeconômica, portanto, a tendência é a de manter, em linhas gerais, o regime de metas de inflação e câmbio flutuante.

Talvez o maior desafio do novo governo seja o de definir as dimensões e funções do Estado. Para um grande número de economistas e cientistas sociais, o crescimento das despesas públicas, a alta carga tributária e a ineficiência do Estado são as principais razões pelas quais o Brasil está no final da fila do crescimento entre os países emergentes. O novo presidente, portanto, terá de decidir se acata aquele diagnóstico e se enfrenta a duríssima tarefa política de conter o crescimento da despesa pública.

Algumas outras áreas de decisões estratégicas envolvem a educação, tecnologia, trabalho e política social, como mostram as reportagens nesta e nas próximas páginas.

E há, finalmente, a inserção do Brasil no mundo. Para a economista Sandra Rios, especialista em questões comerciais, é preciso aumentar o foco das negociações comerciais, reconhecer a importância do mercado norte-americano e decidir se o Brasil vai priorizar a expansão das exportações ou o protagonismo político na cena internacional.