Título: Que fazer com as contradições do Bolsa-Família
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2006, Nacional, p. A9

A política social brasileira, que rendeu frutos eleitorais espetaculares com o Bolsa Família para o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, está numa encruzilhada. O programa, que já atinge 11 milhões de famílias, expandiu-se de forma muito veloz desde que foi lançado, no final de 2003, e é criticado pelo seu caráter assistencialista.

O próximo governo, portanto, terá de decidir se vai reforçar o caráter estrutural do Bolsa Família - isto é, os elementos, como a obrigatoriedade de freqüência à escola das crianças, que teoricamente levam à futura redução da pobreza. Outra opção seria a de manter o programa como está, com uma cobrança muito leve e incompleta das contrapartidas. Neste caso, sempre haveria a opção politicamente tentadora de expandi-lo ainda mais.

O economista Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), especialista em questões sociais, acha que centrar a discussão apenas nas contrapartidas do Bolsa Família é uma visão equivocada. Para ele, ¿o grande desafio do próximo governo é integrar a política social, usando o Bolsa Família como porta de entrada para que os pobres tenham acesso a uma cesta adequada e motivadora de programas, por meios dos quais eles se engagem com entusiasmo no processo de sair da pobreza¿. Isto envolveria, para Paes de Barros, um agente social único que fizesse a conexão entre as famílias e a rede de programas ofertados pelo governo e pela sociedade civil.

QUESTÃO URBANA Um outro aspecto da questão social no qual os avanços têm sido mínimos é a degradação sócio-econômica da periferia e das áreas pobres das metrópoles. Para André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, o governo tem que se engajar em intervenções urbanísticas e sociais nas áreas metropolitanas, induzindo a criação de novos atores institucionais, como agências envolvendo estados, municípios, ONGs e empresas. Ele acha que é preciso revocacionar áreas afetadas pela desindustrialização, o que teria impacto nos indicadores sociais do País e na criminalidade.