Título: PF quer chamar Carvalho e Dirceu para depor sobre dossiê
Autor: Fausto Macedo e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2006, Nacional, p. A14

José Dirceu e Gilberto Carvalho estão na mira da Polícia Federal e podem ser chamados a depor no inquérito que apura a operação pela qual petistas tentaram comprar um dossiê contra os tucanos. O ex-ministro-chefe da Casa Civil e o chefe de gabinete da Presidência foram flagrados pelo rastreamento telefônico da PF em contatos com Jorge Lorenzetti, ex-coordenador do setor de inteligência da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um dos mentores da trama do dossiê Vedoin.

A PF não sabe o que Dirceu e Carvalho conversaram com Lorenzetti, pois seus telefones não estavam grampeados, mas seus números estão registrados no histórico de chamadas realizadas e recebidas pelo ex-coordenador da área de inteligência da campanha - a ¿Abin do PT¿. Os federais suspeitam que Dirceu e Carvalho estariam acompanhando o desfecho da operação de compra do dossiê que pretendia ligar os tucanos à máfia dos sanguessugas - o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras.

A comunicação entre Dirceu e Lorenzetti ocorreu ¿num momento muito próximo¿ da entrega do R$ 1,75 milhão no Hotel Ibis em São Paulo, onde no dia 15 de setembro foram presos dois participantes da trama, os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha.

LIGAÇÕES Lorenzetti ligou primeiro para um número fixo usado pelo ex-ministro. Foi um contato rápido, cerca de 40 segundos. Dali a duas horas e meia foi Dirceu quem telefonou para ele. Outra conversa curta.

Gilberto Carvalho, por seu lado, falou com Lorenzetti poucas horas depois que Gedimar e Valdebran foram presos no hotel com o dinheiro para o dossiê. A PF estranha o fato de o chefe de gabinete de Lula ter trocado telefonemas com Lorenzetti quando ele ainda nem tinha sido envolvido no escândalo. Seu nome só surgiu quatro dias depois da descoberta da operação.

O ex-chefe da ¿Abin do PT¿ disse que não ligou para Dirceu. O ex-ministro, no entanto, confirmou o contato. ¿Conheço Lorenzetti, que foi fundador e dirigente do PT, de minhas atividades no partido¿, declarou Dirceu em nota divulgada em seu blog. Segundo ele, contudo, um telefonema não quer dizer nada. ¿Não sei de que telefonema se trata, quais os números chamados. Não tenho nada a ver com o caso desse dossiê.¿

A Polícia Federal abre nesta semana a nova etapa do inquérito sobre o dossiê Vedoin com um cerco sobre dirigentes petistas, mas uma linha de investigação também alcançará nomes da oposição sob suspeita de envolvimento com a máfia dos sanguessugas.

O empresário Abel Pereira, presta depoimento amanhã, a partir das 9 horas, na Superintendência da PF em Cuiabá. Ele é acusado de intermediar a compra de ambulâncias com recursos provenientes de emendas de parlamentares na gestão do ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB), hoje prefeito de Piracicaba. Negri e Pereira negam a acusação e vêem nela uma manobra para dispersar o objetivo do inquérito.

A investigação terá como foco principal descobrir a origem do dinheiro - R$ 1,75 milhão em reais e dólares - usado na compra do dossiê e todas pistas apontam para dirigentes petistas. No relatório final da primeira etapa do inquérito, entregue à Justiça Federal na sexta-feira, o delegado Diógenes Curado cita o senador Aloizio Mercante (PT-SP), candidato derrotado ao governo de São Paulo, como nome certo para prestar depoimento.

Em razão de contradições na primeira fase do inquérito, devem prestar novo depoimento os petistas Jorge Lorenzetti, Gedimar Passos e Hamilton Lacerda, ex-assessor de Mercadante. Nas entrelinhas do relatório, o delegado deixa aberto o caminho para alcançar outros alvos petistas, que devem surgir com o aprofundamento das investigações, como o ex-assessor especial do gabinete presidencial Freud Godoy. A PF espera também concluir o cruzamento do rastreamento feito em 800 linhas telefônicas .