Título: Serra discute segurança com militares
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2006, Nacional, p. A20

O governador eleito de São Paulo, José Serra, já começou a montar o seu futuro governo, com atenção muito especial para a sua maior preocupação, a segurança pública. Discretamente, ele almoçou terça-feira com o governador Cláudio Lembo e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica em São Paulo. De bem com Lembo, Serra faz uma firme aposta na parceria da polícia paulista com as Forças Armadas para enfrentar o crime organizado.

Amanhã acontecerá a primeira reunião da equipe de transição de Serra, no trabalho de preparação do futuro governo. A equipe de transição será comandada pelo secretário de Finanças da prefeitura, Mauro Ricardo Costa, que, por sinal, é o primeiro nome confirmado para o futuro secretariado de Serra, no qual ocupará a Secretaria da Fazenda. A reunião será na Rua Boa Vista, no centro de São Paulo, e a orientação é de que seus primeiros movimentos sejam feitos sem nenhuma divulgação na imprensa. O futuro governador orientou Mauro Ricardo para que trabalhasse com especial discrição até o dia 29, para não colidir com a campanha do tucano Geraldo Alckmin à Presidência.

DISCRIÇÃO TOTAL

O governador eleito também tem agido assim. Nos últimos dias, compareceu a eventos para reforçar a campanha de Alckmin, mas só toca as providências de organização de seu governo dentro de rigorosa discrição. Ele tem dito a amigos que usará dois critérios para formar seu time de governo: o primeiro é não enfraquecer a equipe que deixou na prefeitura (embora a escolha do primeiro secretário já signifique uma sangria no time herdado pelo prefeito Gilberto Kassab).

O segundo critério repetirá um antigo comportamento que Serra usou em todos os cargos executivos que ocupou: rejeitar indicações políticas feitas por partidos ou políticos aliados. Serra confidenciou a pelo menos dois amigos fiéis que negociará alianças com um critério essencial: o partido recebe o cargo negociado, mas não indica o nome que vai ocupá-lo. O ocupante será escolhido pelo próprio governador, que sempre expressa sua aversão pelo loteamento indiscriminado de cargos. Para as grandes secretarias-meio - Fazenda, Planejamento, Justiça e Casa Civil, que representam a espinha dorsal do governo -, Serra tem afirmado que indicará nomes que têm 'nível ministerial'.

COM LEMBO

Nos últimos dias, enquanto age silenciosamente, Serra tem dito que o governador Cláudio Lembo está colaborando muito com os primeiros passos da transição. A amigos, ele não tem regateado elogios a Lembo, dizendo que o pefelista está se empenhando muito para azeitar os primeiros passos da transição. Serra também tem exaltado o trabalho silencioso que Lembo conduziu na área da segurança pública, depois de enfrentar as graves rebeliões de maio e junho, pouco mais de um mês após herdar o governo de Geraldo Alckmin.

O futuro governador tem afirmado que Lembo agiu com eficiência e equilíbrio para corrigir os rumos do setor de segurança pública e já conseguiu êxitos notórios - a Polícia Militar, por exemplo, já entra em presídios para fazer vistorias. Serra tem expressado total concordância com o trabalho que lançou as bases para uma integração dos serviços de inteligência entre as diferentes áreas da polícia paulista, o Ministério Público, a Polícia Federal e as Forcas Armadas. O futuro governador tem opinado que, para enfrentar o crime organizado, é preciso dar excelência aos serviços de inteligência da polícia.

Em especial, Serra aplaudiu Lembo quando o atual governador brecou o projeto que previa a venda de ações do banco estadual Nossa Caixa para tapar buracos das finanças estaduais. Há quem diga que o veto de Lembo ao negócio teria vindo depois de um providencial alerta de Serra, que soube do negócio antes de sua concretização.

O governador eleito também já pediu a Lembo que não deixe prosperar outros passos prudentes dentro do governo. Por exemplo, pediu que as assinaturas de contratos para Parcerias Público-Privadas (PPPs) sejam suspensas daqui até dezembro, deixando sua concretização a critério do governo que assumirá o poder estadual em janeiro.

Outro pedido de Serra, ao qual Lembo acedeu, é que o atual governo evite finalizar grandes licitações que não tenham notório caráter de urgência. Serra tem criticado pelo menos um dos atuais secretários, que se movimenta para resolver grandes licitações agora. A pessoas à sua volta, o futuro governador já disse que, se algum contrato vultoso de compras for celebrado agora, será cancelado tão logo ele assuma.