Título: Rússia adverte contra punição ao Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2006, Internacional, p. A22

O chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou ontem que Moscou não permitirá a utilização do Conselho de Segurança da ONU para punir o Irã por seu programa nuclear. ¿Vamos nos opor a qualquer tentativa de utilizar o Conselho de Segurança para castigar o Irã ou de aproveitar o programa nuclear de Teerã para promover planos de uma mudança de regime¿, disse Lavrov em entrevista à agência kuwaitiana Kuna. A chancelaria russa publicou a entrevista em seu site enquanto o próprio Lavrov estava reunido em Moscou com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que concluiu ontem na capital russa uma viagem que já passou por Tóquio, Seul e Pequim, centrada na crise norte-coreana e no Irã.

Com suas palavras, Lavrov respondeu às declarações de Rice ao chegar a Moscou, quando disse que a recente imposição de sanções pela ONU à Coréia do Norte por seu teste nuclear do dia 9 poderia facilitar a adoção de medidas mais duras contra o Irã por se recusar a suspender seu programa de enriquecimento de urânio. O Conselho de Segurança da ONU deve debater esta semana um esboço de resolução defendido pelos EUA, prevendo sanções a Teerã.

O chanceler russo insistiu que ¿a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não tem fundamentos para afirmar que o programa nuclear do Irã contém um componente militar¿, e não apenas civil, como afirma o regime de Teerã.

Lavrov admitiu que o programa atômico iraniano suscita uma série de ¿suspeitas¿ e, por isso, instou o governo iraniano a responder a essa preocupação internacional. ¿Mas isso não significa que se pode afirmar que existe uma ameaça para a paz e a segurança, e só uma ameaça assim poderia justificar a aplicação de sanções.¿ Lavrov acrescentou que ¿podem ser discutidas diferentes medidas de pressão¿, mas estas devem apontar a um só objetivo: abrir o caminho para negociações multilaterais com o Irã sobre seu programa nuclear. Lavrov pediu a Pyongyang que abandone sua retórica belicista, mas insistiu que os EUA e a comunidade internacional ¿não devem se levar pelas emoções e sim abster-se de sanções, para deixar aberta a possibilidade de que sejam retomadas as conversações multilaterais¿.

Quanto à Coréia do Norte, Lavrov pediu que Washington e Pyongyang resolvam seus problemas bilaterais para permitir a retomada de negociações multilaterais sobre o programa nuclear norte-coreano.

Em Teerã, o chanceler Manouchehr Mottaki convidou o Ocidente a dialogar sobre ¿as razões¿ pelas quais mantém o enriquecimento de urânio. ¿O diálogo é a melhor forma de chegar a um entendimento¿, afirmou o chanceler .

¿Recomendamos que o Ocidente retome as negociações e evite testar um caminho que ele já testou¿, acrescentou, referindo-se às ameaças de sanções. ¿O tempo para a linguagem da força já passou.¿ Mottaki insistiu que o governo iraniano não vê ¿nenhum motivo¿ para suspender o enriquecimento de urânio. ¿Essa é uma ação legal que deriva dos direitos que o Irã tem como membro do Tratado de Não-Proliferação Nuclear¿, afirmou.