Título: Mendonça de Barros quer 'choque de investimento'
Autor: Ariosto Teixeira
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2006, Economia, p. B3

Para tirar a economia brasileira do atoleiro, seria necessário um ¿choque de investimentos¿, avalia o economista José Roberto Mendonça de Barros, que foi secretário de Política Econômica no governo Fernando Henrique Cardoso. ¿Será preciso um trabalho firme na regulação, para atrair o investimento privado para a infra-estrutura. Aí, estaremos aumentando a demanda interna com dinheiro de quem realmente o tem, que é o setor privado.¿

A forma de convencer os empresários a investir, acredita Mendonça de Barros, seria aprovar uma legislação ¿amigável para o investimento privado¿, ou seja, com regras claras e estáveis que abrissem a perspectiva de ganhos aos investidores. ¿Mas o movimento que vemos é o contrário, pois o atual governo tem visão estatizante.¿

Essa visão se refletiria, por exemplo, no enfraquecimento das agências reguladoras. Ou na expectativa de que as estatais poderão fazer todos os investimentos de que o País precisa. ¿Não vão, e o setor elétrico é um exemplo disso¿, afirmou. ¿O sistema está próximo da fadiga.¿

O economista acha ainda que as estatais terão menos fôlego para investir a partir do ano que vem. ¿Elas foram obrigadas a pagar dividendos elevados ao Tesouro este ano, para cumprir a meta fiscal. Vão ficar sem dinheiro.¿

A melhoria do ambiente para investimentos é reivindicação freqüente do setor produtivo brasileiro. Na semana passada, ao tomar posse para novo mandato, a diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mandou um recado aos dois candidatos: o vencedor das eleições terá o apoio do empresariado, mas será exigido que faça reformas na economia.

Os empresários também estão dispostos a fortalecer a pressão no Congresso, porque sabem que o clima político não será propício a uma agenda mais favorável ao crescimento econômico. Essa agenda tem dez prioridades: redução do gasto público, tributação, infra-estrutura, financiamento, relações de trabalho, desburocratização, inovação, educação, política comercial e acesso a mercados e meio ambiente.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) prepara um anteprojeto de lei para desatar um nó dos investimentos em infra-estrutura: o papel das agências reguladoras. O governo enviou ao Congresso uma proposta classificada de ¿estatizante¿ pelo relator do texto, o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ).

Na Fiesp, o ex-ministro do Planejamento Martus Tavares elabora um texto apoiado pelas entidades do setor de infra-estrutura, que fortaleceria as agências para implementar políticas de Estado sem interferência política de curto prazo. A idéia é levá-lo ao Congresso este ano.