Título: Para Velloso, só avanço do PIB Não vai resolver o problema das contas públicas
Autor: Ariosto Teixeira
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2006, Economia, p. B3

O governo aposta todas as suas fichas no crescimento econômico para dar uma cara melhor às contas públicas em um eventual segundo mandato do presidente Lula sem ter de cortar gastos públicos. ¿Nossa estratégia está baseada na manutenção do crescimento. Temos conseguido manter o aumento da arrecadação mesmo com crescimento não tão grande. Desafio alguém a mostrar algum fator que impeça o crescimento ano que vem¿, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

A equipe econômica imagina que o País poderá chegar a uma taxa média de crescimento de 5% nos próximos quatro anos e, dessa forma, será possível equilibrar as contas sem cortar gastos, apenas controlando seu crescimento para que fique abaixo da taxa de expansão da economia. Mas a estratégia não é consenso entre economistas.

O especialista em Finanças Públicas Raul Velloso avalia que a premissa em que o governo se baseia ao definir sua política fiscal para um eventual segundo mandato é equivocada. ¿O que trava o crescimento é o aumento no gasto público. O PIB só vai crescer se o gasto cair. Não se pode dizer que vai resolver o problema das contas públicas só pelo PIB.¿

Velloso diz que o aumento das despesas correntes do setor público faz com que a carga tributária federal sempre cresça, sufocando o setor privado e reduzindo seu dinamismo e capacidade de investimento. Além disso, maiores gastos correntes inibem a elevação dos investimentos públicos.

O professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Francisco Lopreato, especialista em Finanças Públicas, considera perfeitamente factível a estratégia que o governo pretende adotar. ¿Não é absurdo pensar em crescimento maior.¿ Para ele, entretanto, é necessário que a taxa de juros continue em queda. ¿O juro é elemento fundamental. Com a situação confortável das contas externas e inflação baixa, o que está prendendo a economia é o juro¿, diz, explicando que a queda dos juros também reduz a despesa financeira do governo, e, conseqüentemente, o déficit nominal, que leva em conta o conjunto dos gastos públicos.

Lopreato avalia que num ambiente de crescimento há melhores condições para ajustar as contas. ¿Isso cria um espaço para se manipular a política fiscal de forma mais flexível. É só não deixar estourar os gastos, não permitir que cresçam mais do que o PIB.¿

Um analista econômico de uma grande instituição financeira considera ¿eleitoreiro¿ o discurso de Mantega e de sua equipe. ¿Em ano de eleição, todas as discussões são distorcidas. Duvido que isso vá acontecer.¿